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Menon

Faltou amor na relação entre Muricy e o Santos

Menon

31/05/2013 16h53

"Não entendo porque você quer se separar . Nunca te faltou nada". Esta frase é usada muitas vezes em filmes e livros para mostrar a surpresa do marido diante do fato consumado que lhe é apresentado pela mulher: o amor já havia acabado é agora é hora de romper também o casamento.

Muricy tem o direito de pensar assim. Eu, que dei ao Santos o título da Libertadores que o clube não ganhava há 48 anos, eu que ganhei dois Paulistas seguidos e fui vice no terceiro ano, estou sendo demitido? Eu, que nunca te deixei faltar nada, Santos? Faltou carinho, faltou atenção, faltou amor, responde a mulher ao marido. Faltou jogar bonito, responde o torcedor santista. Faltou olhar para os meninos, responde o dirigente santista. É hora de mudar.

Muitos jogadores já me disseram que, quando dirigidos por Muricy, entram em campo sabendo até o CEP do adversário que vão marcar. A preleção é minuciosa, quem bate escanteio, com qual pé, em que pau, quem cobra falta, como se posicionar na barreira, quem é o responsável pela barreira, tudo digerido e bem explicado. É um treinador detalhista e extremamente competente.

Mas, e isso é pecado capital para o torcedor santista, Muricy diz e acredita mesmo quando diz que "os que querem ver espetáculo devem ir ao circo ou ao teatro". Ora, quem teve Pelé não aceita suor. Não sorri com vitórias vindas da bola parada. Vibrarão, é lógico, com um gol de Marcos Assunção quando ele vier. Se é que virá, mas sempre recordarão e aguardarão pelo retorno das pedaladas de Robinho.

Aquelas camisas brancas bailam sozinhas. Elas se comunicam e exigem ser trajadas por quem prefere o drible ao cruzamento. A sombra de craques inolvidáveis paira e faz peso sobre jogadores de hoje. Elas caem sob medida em Neymar. Elas se recusam a cobrir a pele de patitos e henriques.

Há um modo santista de entender o futebol. Baseado na arte e na – até por questão econômica – revelação constante de jogadores. E Muricy, embora tenha sido um marido, ou melhor um técnico exemplar, do tipo que nunca deixou faltar nada, não se adapta a esse estilo. Ele é honesto, trabalhador, mas não manda flores, não faz carinho, não põe o disco do Roberto Carlos na vitrola e não convida a patroa para dançar.

"Aqui é trabalho, meu filho", diz o grande técnico.

Não basta, é preciso amor, diria o grande time, se tivesse camisas falantes

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.