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Menon

O dia em que eu fiquei velho

Menon

17/06/2013 21h53

A velhice é inexorável e o tempo é um construtor de monstros. Faz um trabalho cotidiano de destruição. O caminho para a decadência física é impossível de ser detido. Vez por outra há um aviso mais forte, uma ruptura: um enfarte, a perda da visão, disfunção erétil, menopausa…. Então, você percebe que está velho.

Para mim, o aviso foi diferente. Veio através das ruas. Fui totalmente surpreendido com tanta insatisfação e tento entender o que se passa. O País está ruim? Inflação em torno de 6,5% ao ano, pouco desemprego? Não é isso, tenho certeza. Estádios caros? Não acredito que seja por isso. Eles estão lotados.

Eu preferiria que as manifestações fossem por questões mais específicas. Querem tarifa zero de que forma: aumentando os subsídios para os donos dos ônibus ou estatizando o transporte? Queria que tanta gente estivesse na rua para apoiar os movimentos por reforma agrária, por moradia, por saúde pública. Mas sei que muita gente está na rua protestando por coisas que eu defendo: as políticas de inserção social, por exemplo. Bolsa-família, política de cotas, regularização da situação laboral das empregadas domésticas, Ciência sem Fronteira etc. Não é nada disso, estúpido, me dizem as ruas. Há um sofrimento muito grande com a fragilidade dos serviços públicos apresentados. Os ônibus em São Paulo são caros e ruins. O Metrô é insuficiente. É difícil buscar um médico. Tenho plano de saúde. Imagina quem não tem.

A questão maior, porém, é outra. É a geléia geral em que se transformou a política brasileira. Todo mundo está aliado com todo mundo. Então, como reclamar que a população considere todos iguais? Há uma descrença muito grande – um ódio até – em relação à classe política brasileira. E eles, que são tão espertos, precisam escutar o aviso do povo. Se houvesse um movimento forte para fechar o Congresso, quem defenderia a democracia? Não acredito que a juventude que está nas ruas voltaria a elas para lutar pela reabertura do Congresso. E um Congresso péssimo é muito melhor que um Confresso fechado.

Nenhum desses jovens tem a coragem que Dilma teve nos anos de chumbo. Mas, diante da geleia geral, isso não adianta mais. A Presidente não se diferencia de gente que a perseguiu. Por que os jovens precisam fazê-lo?

Estou confuso. Mas, quando o povo vai às ruas, é fácil escolher um lado. Não fico com a violência policial, nunca. Não fiquei quando fizeram a pancadaria no Pinheirinho, não ficarei agora. Estou com o povo nas ruas. Que seu grito traga lições a velhos como eu. Que a esquerda se recicle. Só não vou junto porque tenho medo. Simples assim. Diabetes, colesterol, hipertensão, excesso de peso, gordura no fígado não são bons companheiros.

E viva o povo brasileiro.

E viva o gol do Tahiti

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.