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Professor Gallo e General Pinochet: tudo a ver

Menon

23/07/2013 19h51

O treinador Gallo cantou forte e anunciou que nas seleções de base não haverá mais jogadores com brincos, fones de ouvido, penteados diferentes e com marra. Sua decisão me lembrou o Chile de Pinochet e a Argentina de Cesar Menotti.

Leitor assíduo de jornais, uma das imagens mais chocantes que guardo na memória foi de jovens chilenos fazendo filas enormes para cortar o cabelo. Era 12 de setembro de 1973, um dia após o golpe militar do general Pinochet, que acabou com a experiência socialista – referendada pelo voto – de Salvador Allende.

Uma cena brutal. Seres humanos sendo obrigados a usar um tipo de cabelo determinado pelo milico de plantão.

Menotti não tem nada a ver com Pinochet. E nem com Gallo. Treinador que sempre apostou no toque de bola e na boa colocação da defesa em vez de faltas violentas, Menotti era um amante do futebol. E contava uma história para ilustrar como esse era o esporte mais democrático existente.

"Se em qualquer treino de qualquer esporte, o treinador se recusar a dar uma chance para um garoto gorducho, um garoto aleijado ou um garoto quase anão, ele terá poucas possibilidades de estar errado. Se for treinador de futebol, poderá estar afastando genios como Coutinho, Garrincha e Maradona".

É isso. Gallo não quer marra. Vai para casa, Romário. Gallo não quer cabelo comprido? Fora, Neymar. Gallo não gosta de brinco. Toma seu rumo, Maradona.

É muito triste ver a paixão popular nas mãos de alguém tão tacanho. Ele deveria estar preocupado com a falta de jovens jogadores que saibam marcar (laterais), que saibam passar (volantes) que saibam fazer recomposição (meias).

O Brasil está atrasado taticamente, basta ver o futebol europeu. (E como me dói dizer isso) e o professor quer saber de comprometimento, de restrições, de autoritarismo.

Ele disse, ao Estadão, que há um garoto sub-15 do Grêmio, de ótimo futebol e que não foi chamado porque se recusou a dar a mão a um treinador durante um jogo. Fácil, né? Difícil é convocar e ensinar. Passar conceitos. Melhor, não. Que conceitos passaria? Ordem, disciplina, restrição?

O Brasil tem dado muito valor aos treinadores. Um jogador pode se chamar Gallo. Quando vira técnico se transforma em Alexandre Gallo. Junior vira Dorival Junior. E aí vai. Treinador é tão importante que precisa ter sobrenome.

Atitudes como essas de Gallo mostram o deserto de ideias que vive o futebol brasileiro, comandado por esse tal Marin, esbirro da ditadura.

O Brasil não é assim. Não é um país jeca. Nosso futebol é maravilhoso. Não precisa de professores gallos.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.