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Menon

"Valdivia é meu Evair"

Menon

05/08/2013 22h58

Esse texto muito bom, é de Dimitrius Pulvirenti, 20 anos, estudante de jornalismo na ECA e apoiador de Valdivia, enquanto a fase atual continuar.
Há pouco mais de três anos, o Palmeiras trazia Jorge Valdivia de volta. Melhor jogador do time que deu fim à fila de oito anos em 2008, o chileno voltava ao clube acompanhado por Kléber e Luís Felipe Scolari. Três anos se passaram e, junto com eles, incontáveis lesões e polêmicas envolvendo o meia e o clube. Passou de potencial ídolo a símbolo da falta de comprometimento, a foco de gozação dos rivais. Fora de campo tantas e tantas vezes, e jogando por intervalos tão curtos, tornou-se quase impossível lembrar de como ele era em campo. Sempre sem ritmo, com jogadores medianos – no melhor dos cenários – ao seu redor, transformou-se, para o senso comum, em um bom jogador que teve seus momentos em um passado longínquo.

Há pouco mais de 20 anos, eu nascia. Dois meses depois, o Palmeiras deu fim à fila de dezesseis anos. Isto é, estava vivo durante grandes vitórias do Palmeiras na década de 90,  mas que só lembro por alguns flashes de memória. Lembranças pontuais, como o gol do Oséas, sem ângulo, em 1998, da partida do Alex contra o River Plate, em 1999, da comemoração pelo título da Copa dos Campeões, em 2000. Quando tive consciência o bastante para acompanhar o futebol de verdade, o Palmeiras entrou em um período de vexames: lembro muito bem do rebaixamento em 2002, das eliminações para Santo André, Ipatinga, Paulista. Da derrota por 7 a 2 contra o Vitória, no Palestra Itália.

Inferno só interrompido em 2008, quando o Palmeiras sagrou-se campeão paulista, vencendo a Ponte Preta por 5 a 0. Tenho consciência da blasfêmia que direi, mas é verdade: Valdivia foi o meu Evair. O gol dele contra o São Paulo, pela semifinal daquele campeonato, foi o meu pênalti do Matador no Morumbi. Diferença entre gerações.

Durante os últimos anos carreguei esse fardo: tive que cansar de vê-lo machucado, concordar com os que o criticam, pedir junto a eles que Valdivia fosse negociado. Eu tive que odiá-lo, tive que ter raiva do Valdivia, o cara que me fez saber, pela primeira vez e em plenitude, o que é ser campeão. Vi o Palmeiras sofrer uma de suas maiores vergonhas, o rebaixamento do ano passado, com ele sabe-se lá onde. Me revoltar quando ele se machucou, mais uma vez, esse ano.

Obrigado a ver, pela enésima vez, Valdivia voltar. Não posso prever até quando. Foi convocado para a Seleção Chilena que, por enquanto, vai se classificando para a Copa 2014. Fez hoje, contra o Bragantino, sua sexta partida consecutiva. Acabou substituído aos 32 minutos do segundo tempo e reverenciado pela torcida. E, como vem fazendo, decidiu o jogo a favor do Palmeiras. Desde o retorno, já deu assistência, fez gol, forçou expulsão, sofreu pênalti. Na Série B, sim.

Mas o gol que Valdivia marcou hoje, em especial, não tem série. É fora de série. Aos poucos, faz lembrar por que carrega a alcunha de "Mago". Valdivia não é pragmático, na acepção da palavra. Não diria sequer que poderíamos chamá-lo de eficiente. O que Valdivia faz é surpreender. Joga como rebelde, transgressor, girando e correndo do marcador como de um policial. Em boa parte das jogadas, Valdivia não faz o certo, o esperado, e é isso que torna tão interessante o assistir. Que me faz só querer aproveitar enquanto é tempo, enquanto não me decepciono de novo.

Porque não sei se ele vai continuar assim. Se mudou de verdade, se agora quer jogar sempre. Não consigo relevar o fator Série B. Mas vou fingindo que nada aconteceu. Que, em campo, está só o meia que fez o chororô contra o Corinthians e levou um tapa do Rogério Ceni, não aquele que deu chute no vácuo e saiu de campo lesionado, que esteve fora quando o Palmeiras mais precisou. Vou acompanhando como um sonho, daqueles que não queremos acordar. E, pra falar a verdade, ninguém melhor que um Mago para fazer isso parecer uma ilusão.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.