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Menon

Pedro, forte como Rocha, morreu. E eu me lembrei do Grilinho

Menon

02/12/2013 23h27

O telefone tocou faltando poucos minutos para a meia noite. Era a confirmação da notícia que rondava as redações e o futebol há pelo menos um mês: Pedro Virgilio Rocha Franchetti morreu. Um dia antes de completar 71 anos de vida. Como resistiu Rocha! Há pelo menos 20 dias, escrevi seu obituário. Em 2009, quando o entrevistei pela última vez, ele já tinha dificuldades para falar e para caminhar. Quando se levantou, com o apoio de dona Mabel, sua mulher, para se despedir, me surpreendi com sua força. Imaginei como devia ser difícil marcá-lo.

Rocha chegou ao São Paulo em 1970, com 28 anos, depois de haver ganho titulos mundiais e sul-americanos pelo Peñarol, além de Copa América pelo Uruguai. Foi uma negociação difícil e duradoura. E eu, juntamente com meu irmão Carlos Henrique, o Passional, acompanhávamos diariamente pela Gazeta Esportiva, na quitanda do Grilinho. Grilinho, pai do Paulo Grilo, grande ponta direita aguaiano, meu amigo.

Pedro Rocha está perto. Pedro Rocha está longe. Pedro Rocha é possível. Pedro Rocha é impossível. Quando a negociação fechou, nossa festa foi muito grande. Para meu primo João, Pedro Rocha era uma figura mítica. Com oito ou dez anos, só falava nisso. Um dia, perguntou ao irmão, Antonio, que não é muito ligado em futebol: "Tonho, quanto mede o Pedro Rocha?" "Ah, uns três ou quatro metros", respondeu o mal-humorado. Por um meio segundo, João acreditou, tamanha era nossa idolatria

Ele era grande, forte e elegante. É possível ver nas fotos dele em ação toda a postura dos craques de verdade. Cabeça erguida, passadas largas, a bola era tratada com desdém. Era apenas um apêndice de sua chuteira. Não tinha vida própria. O jogo de Rocha era cirúrgico. Carregava a bola, lançava Terto na direita e corria na área para cabecear. Quando não dava para lançar, ele mesmo chutava. Fez 119 gols em 390 jogos.

Estava falando com meu amigo Moacyr, corintiano como ninguém. Ou como todo corintiano, passional ao extremo. Para ele, Rocha é o símbolo de uma época em que o futebol podia reunir amigos. Ele chegou a ir ao Morumbi ver São Paulo x Palmeiras em uma decisão, com Rocha em campo. "Ainda trago na cabeça aquela imagem. Pura elegância".

Uma elegância que foi varrida do mapa pelo futebol total da Holanda em 74. As imagens mostram um Rocha dominando a bola e totalmente assustado com a marcação de três ou quatro holandeses. Era impossível andar. Era impossível ser elegante, com a tropa comandada pelo genial Cruyff do outro lado.

Com a morte de Pedro se vai uma lembrança da minha adolescência. Há uma tristeza muito grande em mim. Foi meu ídolo, um dos poucos que tive no futebol. Sou feliz por ter escrito um livro sobre ele. De ter sido tão bem recebido na casa dele e do susto que lhe dei. Foi quando ele comentou que via jogo todo jogo de futebol que passava na televisão. E que era fã de Gerrard. Ele joga parecido comigo, disse. E eu, do fundo do coração, sem pensar, gritei: "Não, não joga não, Pedro. Não joga não. Você era muito mais". Ele riu. 

E, ele que me desculpe: Gerrard não é nem sombra de Pedro Rocha. Pelo menos para mim e para o Passional.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.