Topo

Menon

Em 2013, o futebol brasileiro foi massacrado

Menon

15/12/2013 11h17

O garoto que começa a gostar de futebol se senta à frente da televisão e vê Aguero marcar um golaço de voleio. Estava ali, paradinho, a bola chegou e ele fez, com classe. O garoto não sabe que Romário fez milhões de gols assim, esperando a bola buscá-lo. Não sabe também que Bebeto era meste nesse voleio. Melhor que Aguero.

A mãe traz um suco, um lanche, traz o tablet para ele ver outras coisas enquanto o jogo segue. Não precisa. O garoto está maravilhado com os dois gols de Fernandinho, com a ONU futebolística que tem bem diante de si: argentinos, alemães, marfinenses, espanhois…. O jogo é ótimo. O Paulo Andrade narra com emoção e informação, o Mauro Cezar comenta com conhecimento. Yayá Touré joga muito.

Por que o garoto vai ao campo de futebol? Para ser pisoteado como outros foram em Joinville? Mesmo que não seja bandido como eram aqueles que lá brigavam? Vai torcer para um time e depois ficar sabendo que há julgamentos e julgamentos? 

O futebol brasileiro foi massacrado em 2013. Foi motivo de chacota. A grande emoção do Brasileiro, após 380 jogos, é saber se o Vasco vai conseguir escapar no Tribunal. Não foi. É saber se o milionário Fluminennse, que caiu no campo, vai voltar no Tribunal. Hoje, o que vale é ter um bom advogado.

Não se discute se Neymar pode ser Pelé. Não, nos bares, a bringa é para saber se vale a Lei ou o espírito da Lei. Ora, quem vai trocar uma transmissão de alto nível, o suco da mãe por um futebol chinfrim….?

Não é novidade alguma que os grandes craques estão lá. O dinheiro os leva. Mas, no ano passado, era possível ver Neymar, era possível ver Paulinho, era possível ver Lucas. Em 2013, os destaques foram Tardelli e Ronaldinho Gaúcho. Ambos do Galo, a exceção em um ano tão ruim para o futebol brasileiro.

O destaque do campeonato brasileiro foi Everton Ribeiro. Bom jogador, mas só isso. A safra não foi boa. Tivemos ainda Seedorf e Alex, enquanto as pernas aguentaram. Um ou outro lampejo de Ganso. O que mais? Uma partida espetacular, antológica de Rogério Ceni no Chile? Vitinho, grande futuro, que nos deixou com seis meses de futebol?

E, se dentro de campo, as coisas foram ruins, o Brasil ainda foi o rei do vexame fora dele. Vamos recordar:

A organizada do Corinthians assassinou um garoto na Bolivia

A organizada do Palmeiras agrediu seu goleiro, na Argentina

A PM de Minas bateu em jogadores do Arsenal. Caiu no Horto, tá quase morto.

No final de 2012, a torcida do São Paulo invadiu o campo após o jogo contra o Tigre

Os delinquentes de Corinthians e Vasco se enfrentaram.

Houve aquilo lá em Joinville.

Não vou falar dos acidentes no Itaquerão e no Amazonas. Infelizmente, com futebol ou sem futebol, a vida de operários da construção civil sempre estão por um fio. É algo que transcende o ludopédio.

Esse é, para mim, o retrato de um ano ridículo: pouco futebol dentro de campo, muita violência no entorno, e nenhuma certeza de que o que se construiu em campo será respeitado fora dele.

Por que sair do sofá?

PS  – O botafoguense Carlos Henrique me contesta, via twitter. Ele cita a conquista da Libertadores pelo Galo e da Copa das Confederaçõs, pela seleção, para dizer que a visão acima é pessimista. 

Realmente, foram duas conquistas importantes. A da Copa das Confederações, uma surpresa espetacular, com ótimo futebol mostrado. O futebol brasileiro é inigualável. Mas até quando vai aguentar, Carlos Henrique, com campos ruins, jogos decididos em tribunais, violência etc? Eu me sinto pessimista como nunca. Um abraço

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.