Topo

Menon

Itaquera é o futuro do São Paulo. Aidar deveria saber disso

Menon

02/04/2014 14h14

Carlos Miguel Aidar, candidato à presidência do São Paulo, referiu-se a Itaquera como um "lugar longe de tudo" e "aquilo é outro país". Como é um homem sério, acredita-se que disse o que pensa. Como é candidato, pode ser que esteja dizendo o que os seus potenciais eleitores gostariam de ouvir. Desinformação, falta de visão estratégica e preconceito se misturam, sabe-se lá em que proporção.

Itaquera é o futuro do São Paulo. Itaquera, Jardim Ângela, Marsilac, todas as franjas da cidade. Há uma torcida enorme do São Paulo nos locais mais afastados do centro, nos bairros mais pobres da metrópole. E é isso o que faz a grandeza do São Paulo, seu diferencial em relação ao Palmeiras, por exemplo.

Existem dois times de massa em São Paulo. Carlos Miguel e muitos outros torcedores do São Paulo talvez não saibam que nos bairros pobres é onde a diferença da torcida corintiana em relação á são-paulina é menor. Entre os ricos, é muito maior.

O acréscimo de torcedores do São Paulo nas periferias é um presente de Telê Santana. Com ele, o clube foi bicampeão do mundo  e viu sua torcida crescer. Ou Carlos Miguel acha que os gols de Raí, Muller e outros não eram vistos entre os pobres? Em todos os cantos? O tricampeonato de Muricy trouxe outra onda.

Aqui, me permito, uma pequena análise sociológica. É comum as pessoas mais pobres se identificarem com novos ícones de consumo. O funk ostentação é isso. Os rolezinhos  mostram isso. Muitos pobres passaram a torcer pelo São Paulo porque perceberam que podem torcer para quem quiser. Podem ser maloqueiro, sofredor e não serem corintianos. São jovens que não querem ser enquadrados em conceitos pré fabricados. Se existe rico corintiano, não pode ter pobre são-paulino?

Júlio Casares, por exemplo, que acredita piamente na possibilidade de o São Paulo ter a maior torcida do Brasil, com certeza concordará que só conseguirá isso aumentando sua inserção nas classes D, E e C. Por que? Porque há muito mais pobre do que rico. Há muito mais periferia do que Itaim.

Mas, para Carlos Miguel, são torcedores de outro país. Ficam longe de tudo. Merecem torcer para o São Paulo?

Com certeza em seu plano de governo não haverá alguma coisa específica para trazer essa massa consumidora para o clube. Fazer uma sede do clube em cada bairro longínquo? Ter um plano específico de sócio torcedor? Não sei. Não sou marqueteiro. Tratar como excluído é contraproducente, eu sei. Sou um ser humano dotado de inteligência mediana, não precisa mais do que isso.

Carlos Miguel é candidato à presidência do São Paulo em 16 de abril. Do São Paulo. Por que falar do Corinthians? Dá voto? Por que trazer o outro clube para dentro do seu? É dar muita importância ao rival.

Essa postura que eu chamo de arrogante há muito tempo dá voto? Antes, uma explicação. Eu falo dessa arrogância há muito tempo MESMO. Desde que Marco Aurélio Cunha e Kalil Rocha Abdalla eram da diretoria e ajudaram Juvenal conseguir um novo mandato estuprando o estatuto, graças a um parecer encomendado a Carlos Miguel.

Será que os sócios votarão em Carlos Miguel porque ele disse que Itaquera é "outro país"? Tomara que não pensem isso. Tomara que o novo presidente não pense nisso. Se for assim, o São Paulo continuará mal administrado. Continuará preso ao nhemhenhem típico de classe média, típico de coxinha de gel no cabelo, acreditando em uma soberania que é desmentida, no prazo de seis meses, por Ponte Preta e Penapolense. Acreditando ser mais do que os outros. Será que é preciso lembrar como o Morumbi era "longe de tudo" nos anos 60?

Carlos Miguel e Kalil precisam trabalhar logo porque a massa agregada graças aos títulos e Telê e Muricy pode não se repetir. Elas são o diferencial do clube. São o presente do clube. Sem ela, o futuro é medíocre.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.