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Menon

Deus não estava na final do Paulistão

Menon

17/04/2014 12h05

Terminado o campeonato paulista, com o espetacular título do Ituano, o repórter Abel Neto se aproxima do técnico Doriva e pede que fale sobre a conquista. Ouve-se, então,  30 segundos de louvação religiosa. O básico é o seguinte "quem dá créditos à palavra de Deus, recebe bênçãos do Senhor na Terra".  O vídeo foi colocado na internet pelo Pastor Jefferson Campos, com um texto de Malaquias que fala "Então vocês verão novamente a diferença entre o justo e o ímpio, entre os que servem a Deus e os que não o servem". O texto  tem 60 mil compartilhamentos e quase 5 mil comentários. São exultantes e também agressivos. Alguns comemoram o fato de a Globo não poder editar o que o técnico falou, porque foi ao vivo.

Esse tipo de comportamento religioso me incomoda. Coloca os que acreditam de um lado e os que não acreditam do outro. Todos vimos o tamanho mínimo das ideias do Pastor Feliciano na Comissão dos Direitos Humanos. Todos sabemos como os evangélicos não aceitam e até perseguem os crentes de outtras religiões, principalmente aquelas de matriz africana.

No campo esportivo, esse tipo de pensamento não deu certo. Em 2010, tivemos a partir de Jorginho uma comportamento assim. Cada gol da seleção era comemorado como obra do Divino. E Deus era holandês?

O Ituano ganhou porque Doriva é um crente? Osvaldo não é? Osvaldo não rezou? Deus cuida apenas de quem o louva? Não ama todos seus filhos igualmente?

Será que Deus aprova a violência do zagueiro Alemão? A cera do goleiro Valter? Deus está preocupado com futebol? Ah, e se Deus queria tanto assim a vitória de Doriva, que o louva, porque deixar ir para os pênaltis? O que Deus tem contra Neto, que errou o último pênalti?

Doriva montou um time que marca bem, que recompõe bem e que tem alguns bons jogadores como Jackson Caucaia e Esquerdinha. Fez um ótimo trabalho. Mas eu nunca o contrataria para dirigir meu time. Como saber que ele não perseguiria algum jogador que não louva a Deus? Esporte, para mim, deve ser fator de união dos povos. Não deve ser usado como argumento de quem vê o mundo de forma binária: Nós, os Eleitos, contra Eles, os que renegam.

Passo longe de fanatismo.

PS – Antes de dizerem que eu persigo religiosos, lembre que são aqueles que levam religião ao pé da letra os que perseguem. Galileu está aí para provar.

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.