Carlos Miguel, o São Paulo não merece ser chamado de time do porrete
Caro Carlos Miguel Aidar
Acredito que eu não estarei cometendo nenhum erro de etiqueta ao dizer que o tempo passa para todos nós. Você já não é o jovem trintão que dirigiu o São Paulo com tanto êxito nos anos 80. Não é o Carlos Miguel dos Menudos do Morumbi. Mesmo assim, sua eleição agora veio sob o signo da renovação. Mesmo apoiado por Juvenal Juvêncio, que deixa o cargo após oito anos, havia a certeza de que as coisas iriam mudar. Afinal, você é homem de ideias próprias. E muito boas, por sinal. Já comprovadas na história do clube.
Ainda é cedo para colocá-las em prática, você não pode ser cobrado por isso. Mas há a questão do estilo. O estilo define o homem. E, nessa questão, a mudança é pouca. Sai o estilo Juvenal Juvêncio e o estilo Theodore Roosevelt, com seu grande porrete.
"Fale suavemente e carregue um grande porrete" era um ditado popular que caracterizava a política externa dos Estados Unidos de 1901 a 1909 quando Roosevelt era o presidente. Dialogava, mas não abria mão da força bruta para colocar suas ideias em prática. Um pouco diferente de Juvenal, que dava a porrada e nunca teve fala mansa com ninguém.
Carlos Miguel, como pode um advogado importante assumir o cargo de presidente do São Paulo a ano e anunciar, como primeiro ato, a mudança do estatuto? Você está assumindo um clube que não ganha títulos importantes há seis anos e que tem sido ultrapassado – em questão de modernidade e gestão – pelos rivais. Por um clube que, graças ao estilo "bateu levou e se não bateu, levou também" de Juvenal Juvêncio, agora tem oposição. No mínimo 1/3 está contra você.
E você começa com confronto? Com o grande porrete em ação?
Dá para negociar, dá para conversar, dá para aprovar esse projeto de cobertura em pouco tempo. Em tempo hábil. E, olha a minha pretensão querendo ensinar política a você, conseguir um apoio muito grande. Se fizer na base da conversa, na base do convencimento, você terá a cobertura e o bônus do apoio de muita gente que votou no Kalil Rocha Abdalla. Querem ser respeitados. E, em troca, estarão com você nos próximos anos. Tornarão sua reeleição mais plausível.
Se mudar o estatuto, você terá a aprovação da cobertura. Mas ficará com a pecha de fazer a maldade que nem Juvenal fez. Estuprar o estatuto novamente. Vão lembrar também que você já mudou o estatuto uma vez para garantir novo mandato ao Juvenal.
Presidente, o senhor já foi presidente da OAB-SP. Tenho certeza que, se voltasse ao cargo, seria pressionado por seus pares para comandar a resistência diante de alguma hipotética tentativa de algum presidente brasileiro em instalar aqui o sistema de reeleições indefinidas. Não tanto pelas eleições, mas pelo falto de estarem mexendo na Constituição Brasileira. Escrevi com letra maiúscula porque ela merece.
Então, qual é a diferença? O clube que seu pai dirigiu merece isso?
Mas, o pior está por vir. Pelo menos, na minha opinião. Como presidente do São Paulo, o senhor não tem o direito de colocar os torcedores do clube sob desconfiança dos torcedores adversários. Não pode colocar neles a pecha de apaniguados do poder. E é isso o que acontece quando o seu escritório continua a defender a CBF contra a Portuguesa. Na vida é necessário escolher lados. E, ao fazer isso, o senhor está ao lado de Zé Maria Marin e Marco Polo del Nero. O senhor está ao lado de Roma, corrupta e cheia de vícios, e contra a pequena Gália de Obelix e Asterix. Conhece a história de Uderzo e Goscinny?
Tenho certeza de que a maioria da torcida são-paulina não aprova que o senhor use mão do porrete também contra um time de São Paulo. Nenhum dos torcedores que eu conheço aprova essa união com os gigantes e contra os pequenos.
Outra coisa: se o seu escritório ganha dinheiro com essa causa – nada mais justo que ganhe – o São Paulo pode se prejudicar. As futuras diretorias da Portuguesa seguramente terão pouquíssima boa vontade em negociar com o São Paulo.
Por melhor que seja o pagamento ele não vale que – no primeiro erro a favor do São Paulo – o torcedor seja obrigado a escutar que o erro veio por encomenda, veio pelo fato da amizade sua com del Nero, veio pela proximidade do clube com o poder.
Percebe?
O seu escritório fica como bônus. Ganha muito dinheiro com a causa.
A torcida fica com o ônus. A fama de torcer pelo time do sócio da CBF.
Carlos Miguel, pense nisso. O torcedor não merece isso. E você não precisa do dinheiro que vai ganhar com essa causa.
Um abraço
Menon
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