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Greve. É a chance do Botafogo escrever novamente a história do futebol

Menon

05/08/2014 18h58

O Botafogo é dono de uma linda história escrita, com luvas e chuteiras, no futebol brasileiro. No final dos anos 50 e início dos 60, teve Garrincha, o anjo das pernas tortas, ao lado de Nilton Santos, Didi, Manga, Amarildo e Zagallo.

Depois, vieram Gérson, Rogério, Roberto, Caju, e Jairzinho, além de Marinho Chagas.

Ataques formados por Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo ou Rogério, Gerson, Roberto, Jairzinho e Caju são reais ou não se encontraram? Um chegou enquanto outro saía? Não interessa. Imaginação e realidade se fundiam quando o assunto era o Botafogo.

Agora, é possível fazer história novamente. Fora do campo. O Botafogo não é sombra do que foi, mas quem é? Hoje, os craques deixam o Brasil como promessas e voltam como quase aposentados.

Jefferson; Lucas, Bolívar, Dória e Junior Cesar; Bolatti, Gabriel, Edílson e Carlos Alberto, Zeballos, Rogério, Julio Cesar, Emerson, Airton, Wallyson; Yuri Mamute e Daniel, que participaram da derrota contra o Flamengo e empate contra o Cruzeiro não estão à altura das glórias do passado, são o reflexo do momento atual do futebol brasileiro, mas podem superar suas dificuldades técnicas com um rasgo de dignidade e começarem a mudar o futebol brasileiro.

Basta não jogar. Basta não entrar em campo. Não adianta entrar em campo com uma faixa com detalhes dos problemas que enfrentam. O clube deve cinco meses de direitos de imagem, três meses de salário e não recolhe o FGTS.

Será que Maurício Assunção, o presidente do clube, vai se impressionar com uma faixa que torna público o que ele tenta esconder? Lógico que não. Ele que faça uma faixa e explique para a torcida porque os jogadores não entraram em campo.

A greve é um direito legítimo dos trabalhadores. Todo tipo de trabalhador pode – e tem direito – de negar sua força de trabalho ao patrão que não lhe paga.

Emerson Sheik, que tem parte do salário pago pelo Corinthians, tem ajudado os companheiros monetariamente. Diz que não tem dinheiro nem para a gasolina. Ao fazer isso, ajuda os amigos, mas ajuda muito mais o presidente do clube, exemplo acabado e escarrado do cartola brasileiro.

Muito melhor faria se continuasse ajudando mas que também convencesse a todos que entrar em campo é caminhar para o cadafalso. Serão respeitados pela torcida até a próxima derrota. Depois disso, vaias e irracionalidade como sempre

Serão esquecidos como jogadores que entraram em campo mesmo sem salários para respeitar a torcida. Serão lembrados como jogadores que tomaram atitude e se recusaram a participar da farsa botafoguense, um time profissional que não paga seus profissionais.

E o Bom Senso? Que atitude vai tomar em relação aos companheiros do Botafogo? Não adianta apenas criticar os dirigentes. É preciso agir contra gestões como a do Botafogo, que servem apenas para levar o futebol brasileiro ao subsolo da credibilidade.

Leia agora, o trabalho feito pelo ótimo Luiz Gabriel Ribeiro de Oliveira, do UOL, sobre a situação do Botafogo.

– O Engenhão foi fechado em março de 2013. O estádio era importante fonte de renda para o clube. A negociação pelos naming rights foi paralisada.

– O clube foi excluído do Ato Trabalhista em julho de 2013. De acordo com o TRT, o Botafogo sonegou, entre 2009 e 2013, cerca de R$ 95 mi, que seriam destinados a pagamentos de ações trabalhistas.

 

– Com receitas penhoradas, o clube começou a ter problemas para honras os compromissos. Os salários passaram a ficar atrasados a partir de meados de 2013.

 

– O regime de concentração foi cancelado em jogos dentro de casa. A medida causou apreensão na diretoria, mas contou com o apoio de Oswaldo de Oliveira.

 

– Os salários atrasados precipitaram saída de jogadores em 2013, quando o time brigava na parte de cima da tabela do Brasileiro. Jadson, Fellype Gabriel, Andrezinho e Vitinho deixaram o clube. O Botafogo não recebeu as verbas por causa das penhoras. A situação financeira não mudou.

 

– Sufocado em 2014, o Botafogo enxugou a folha salarial mesmo em ano de disputa de Libertadores. No entanto, continuava em apuros para honrar compromissos por causa das penhoras.

 

– Em março, ainda em meio a disputa da Copa Libertadores, os atletas atrasaram um treinamento por cerca de meia hora e, em seguida, ficaram por oito minutos sentados no gramado do campo anexo do Engenhão para demonstrar o incômodo com os atrasos.

 

– Neste mesmo mês, os jogadores decidiram não aparecer em treino que estava marcado para um domingo.

 

– Durante a Copa do Mundo, o grupo de jogadores se negou a viajar para a Paraíba, onde tinha um amistoso marcado com o xará local.

 

– Em julho, Maurício Assumpção se reuniu com a presidente do Brasil, Dilma Roussef, e relatou o problema que vem enfrentando. Na ocasião, ele chegou a levantar a possibilidade de abandonar o Campeonato Brasileiro por correr o risco de não conseguir manter o time.

 

– Antes do clássico com o Flamengo, os jogadores do Botafogo exibiram uma faixa com detalhes dos problemas que enfrentam. Atualmente, o Botafogo deve cinco meses de direitos de imagem, mais três de carteira de trabalho, além de FGTS.

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.