Ronaldinho Gaúcho é Papai Noel, é globe-trotter. Vale a pena?
Twitter, email, facebook, filmes, vídeos, animação, cobertura online. Tudo isso era palavrão, coisa de doido, material para Isaac Asimov, que o Passional, o grande garanhão de Aguaí, adorava ler. Notícia, para quem gostava de esporte, era no jornal. No bar do João Varzone, na quitanda do Grilinho ou, quando passava féria em Casa Branca, no Estadão, assinado por Pércio Bacci, o tio.
Acordava cedo para ver se o Brasil de Thomas Koch, Kirmayr e Mandarino estava indo bem na Davis. Para acompanhar as decisões mundiais entre Petrosian x Spasskyi, Spassky x Fischer, Fischer x Karpov, Brasil x Porto Rico no Ibirapuera, Eder Jofre…
Informações corretas, mas demoradas. O que existia na época e que hoje é impossível pela melhoria da comunicação é lenda urbana. Fatos dados como verdadeiros e que não se sustentariam hoje. Mitos e lendas transformadas em realidade. Os globe- rotters, por exemplo.
Vinham sempre ao Brasil.
Para nós, garotos do interior, eles eram os melhores do mundo. Eram jogadores de verdade, competitivos e não malabaristas. Havia uma história a comprovar a eficiência e magia dos globe-troters. Eles teriam vencido a seleção da França por 100 a zero. Os franceses treinaram muito e pediram revanche. E perderam por DOIS a zero. Os negros mágicos do Harlen trocaram passes o jogo todo e só no último lance resolveram fazer dois pontos.
Tempos de inocência que só estão aqui retratados porque velhice combina com nostalgia. E também por conta de Ronaldinho Gaúcho, que busca um novo time para desfilar sua arte. Uma arte cada vez menos competitiva. É a impressão que me deixou depois do título da Libertadores conquistado tão brilhantemente pelo Galo.
Nada a ver com balada, nada a ver com falta de comprometimento nos treinos, me conta um amigo mineiro. Ronaldinho estava cansado de futebol competitivo. Estava mais a fim da pedadalada, do pé sobre a bola, do passe vesgo – olha para cá e passa para lá – do que de futebol mesmo. Dava a impressão de não querer magoar os torcedores bolivianos, peruanos, colombianos que cercavam o hotel, que gritavam seu nome, que imploravam por um olhar. Como deixar essa gente triste? Como vencer um time que o homenageou antes do início do jogo? Como deixar de ser unanimidade?
Esse é o Ronaldinho que está no mercado. Pronto a jogadas de efeito que deixam seu torcedor entusiasmado e o rival admirado. Pronto a dividir alegria por aí. Com ele, não tem tristeza. Não tem mais ânimo para deixar ninguém triste. Ronaldinho é globe-trotter. É Santa Claus. Um Noel Negro. Um jogador que já seria questionado nos anos 60, quando eu acordava cedo para ler o jornal do meu tio. Imagine hoje…
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