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Jair Picerni: "Em vez de apostar na base, o Palmeiras aposta na Argentina"

Menon

20/08/2014 06h03

Jair Picerni é torcedor de dois times: a Ponte, onde trabalhou por oito anos, como jogador e treinador e do Palmeiras, cujos jogos assistia ainda garoto, no início dos anos 50 e onde teve duas passagens como treinador. "Em 2003, subi com o time e em 2006, impedi de cair. Acho que a torcida tem uma boa impressão de mim", diz, a três meses de completar 70 anos e afastado do futebol há dois anos. "Se aparecer um projeto bom, eu volto. Ainda tenho lenha para queimar por uns cinco anos".

Ele se confessa assustado com a atual situação do Palmeiras. "Quando subiu, eu tinha certeza que nunca mais passaria sustos. Passou em 2006 e não tomaram jeito. Caiu em 2012 e não aprenderam nada. Agora, tem de rezar muito e acender vela enorme porque o time é muito ruim. Tem de treinar mais, o time precisa se destravar. O clube é gigantesco, enorme, mas o time é ruim".

Para exemplificar o gigantismo do clube e o nanismo do time, volta em 2003. "Nosso último jogo seria em Guaranhuns, no interior de Pernambuco, terra do Lula. Chegamos de noite em um aeroporto pequeno e tinha 2 mil pessoas esperando, aplaudindo, todos palmeirenses lá da região. Onde o Palmeiras vai, tem torcida. Não tem é time. É só comparar a nossa escalação: Marcos, Baiano, Daniel, Glauber e Lúcio; Correa, Alceu, Elson e Diego Souza, Vagner Love e Edmilson. Tinha o Munõz também".

Ele começa a relembrar e chega a um nome que considera chave para explicar a decadência. "Eu subi o Wendel como volante. Tinha qualidade, senão não tinha subido. Nunca foi titular, mas ajudava bem. Agora, dez anos depois ele é titular da lateral do Palmeiras. Não dá, né?

Picerni aponta o dedo para o grande erro das diretorias do Palmeiras, capaz de levar o time atual à situação complicada. "Para formar nosso time, dispensamos jogadores como Zinho e Dodô e apostamos na base. O Mustafá relutou mas aceitou. E não fizeram mais isso. Agora está aparecendo o Renato. É muito pouco. Sem base, tem de contratar um monte. E aí erraram de novo, contrataram um monte de argentinos".

Nada contra os vizinhos, faz questão de dizer. Mas, nada a favor também. "Se um técnico brasileiro perdesse tanto quanto o Gareca, já estaria demitido. E, se ele sair, fica a herança de tanto jogador estrangeiro. Brasileiro não é bom, não"? Aponta outro problema. "Tem muita briga interna, todo mundo fala. O Mustafá, que era o presidente, impedia isso. Tive sossego para trabalhar".

Picerni, mais do que com o Palmeiras, está assustado com o futebol brasileiro. "Tudo está complicado. Ninguém acerta um passe. Dão chute e não dão passe. O Ganso tem de ser titular com uma perna só. E na Copa, por pior que estivesse, não dava para passar susto com Chile, México e Colômbia. Acho que a gente criou ilusões. Que historia é essa de melhor dupla de zaga do mundo? Tremenda besteira".

Ele diz que o futebol brasileiro está doente. "Só o Cruzeiro está razoável. Eu vejo muito jogo por aí e desanima. O Palmeiras, eu torço muito para ele, mas time que tem um centroavante que perde um gol feito como o Henrique perdeu com o São Paulo…. Se fosse o Vagner Love era caixa".

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.