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Triste retrato do jogador brasileiro: inseguro e desinteressado

Menon

21/08/2014 17h00

Os 7 a 1 da Alemanha serviram para que se criasse um consenso nacional: os treinadores brasileiros ganham muito e são atrasados taticamete. Muita gente já havia cantado a bola antes e tem o direito de dizer – "eu não falei?" – e outros foram surpreendidos com a gravidade da situação. Eu me coloco em um meio termo. Mas, o que dizer do jogador brasileiro, taticamente falando? Ele é um ser espetacular que não tem professores dignos de seu talento?

Conversei, por telefone, com um grande treinador brasileiro. Dono de um grande currículo, com passagens por grandes clubes. Ele me garantiu que não é nada disso. Traçou um perfil desalentador, de alguém – em geral, com poucas exceções – muito pouco preocupado em entender o esporte que pratica e que garante – com um pouco de organização financeira – vida boa para os filhos e netos.

Ouvi, anotei e conversei com outros treinadores. Todos, sob pedido de anonimato, concordaram. Não houve quem discordasse.

Algumas das queixas.

1) Para chamar a atenção de um jogador na preleção que antecede jogos, importantes, ou não, é preciso uma parafernália tecnologica. Vídeos, gráficos, laser, a gente faz de tudo e é difícil o cara deixar o celular de lado.

2) Não sabem como joga o adversário. Não estudam, não se interessam, não conhecem características técnicas ou táticas. Antigamente, os jogadores se conheciam. Todo mundo sabia que o Gérson tinha uma canhota divina, que o Rivellino tinha uma patada. Hoje, não sei se é porque a rotatividade aumentou muito, ninguém conhece ninguém. E nem quer conhecer.

NOTA – Aqui, eu faço um adendo. Com mais de 20 anos cobrindo clubes, uma pergunta recorrente que sempre fiz foi "o que você acha do próximo jogo? Quais são as características principais.? O que assunsta mais?".  Sem nenhum exagero, em 100% dos casos, ouvi o seguinte: "o professor não passou nada para nós ainda. Vou esperar".

3) Jogador não sabe, a não ser na parte final do campeonato, qual resultado interessa para o time. Que time tem de ganhar, quem tem de perder, nada disso. Poucos sabem dizer quais são os três próximos jogos do seu time.

4) Jogador não gosta de ver futebol na televisão. Prefere outro tipo de atração. Para exemplificar, o treinador citou Daniel Alves, que já confessou preferir ver novela do que futebol.

5) Há uma insegurança muito grande com o que está acontecendo fora da concentração. Uma ligação não atendida para a namorada ou a mulher causa irritação, insegurança, e falta de atenção no jogo.

6) Atendem telefonemas de empresários, que "enchem a cabeça" do jogador. Dizem que o técnico está perseguindo, está escalando em lugar errado, que assim o cara não consegue fazer golsl

Exageros ou não, tudo leva a crer que a recuperação do futebol brasileiro tem um entrave a mais. Gente talentosa e rica pouco interessada na profissão.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.