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Menon

O gigante verde faz 100 anos. Aplaudo, de pé. (1)

Menon

25/08/2014 13h56

O Palmeiras é um gigante. É enorme. O futebol brasileiro deve muito a ele. Basta lembrar da vitória por 3 a 0 sobre o Uruguai, no Mineirão, em 65. Era a primeira Academia.  BRASIL: Valdir (Picasso); Djalma Santos, Djalma Dias e Ferrari; Dudu (Zequinha) e Valdemar (Procopio); Julinho (Germano), Servílio, Tupãzinho (Ademar), Ademir da Guia e Rinaldo (Dario). Técnico: Filpo Nuñes. Um time representando um país.

Basta lembrar a segunda Academia: Leão, Eurico, Luis Pereira, Alfredo e Zeca. Dudu e Ademir; Edu, Leivinha, Cesar e Nei.

O Brasil deve muito ao Palmeiras. O time que era Palestra, que era de italiano e que hoje é de brasileiros de todas as raças e credos.

Vou lembrar alguns jogadores palmeirenses com quem convivi  como jornalista. Os três primeiros virão acompanhados com textos de grandes jornalistas palmeirenses. Espero que todos estejam à altura do grande Palmeiras.

1) O ÚLTIMO PEDIDO

Adriano Pessini

É difícil precisar sua idade, mas sabe-se que São Marcos já não era tão novo assim. Antes de sua morte, já tinha feito por aqui suas peregrinações, escrito seu evangelho e dado seus conselhos. Subiu, então, ao firmamento, conheceu aquele cabeludo que diziam ser o filho preferido do Homem e reencontrou velhos parceiros, como Pedro e João, com quem tomava conta das portas do paraíso, ajeitava os móveis de vez em quando e atendia algumas preces terrenas.

Não gostava de Paulo, por achá-lo muito metido à besta, e de Jorge só tinha notícias que ele havia descido ao purgatório para resolver algumas pendências. Mas a vida andava monótona pelos lados lá de cima. E não era para menos, já que ele estava lá havia pelo menos 1930 anos e não podia mais desfrutar dos prazeres dito carnais. Entre uma partida de truco e um gole de chianti, começou a olhar mais para baixo, ver o que por aqui se passava, até que descobriu o sentimento afável do futebol. Encantara-se com aquela equipe cujos discípulos eram mais fervorosos que os outros, que agiam por um amor inquestionável, desfilavam em um jardim suspenso, e que, por coincidência, seu grande ídolo tinha a alcunha de Divino. Uma verdadeira religião. Gostou do que viu. Tornou-se mais um seguidor daquela fé inquestionável, até que um dia resolveu interceder. Dia 6 de junho do sacro ano de 2000.

Ele fez a sua parte e cortou as asinhas de um blasfemo que se intitulava Pé-de-Anjo, mas teve de prestar contas ao Homem pelo seu feito. Questionado pelo Todo-Poderoso por qual razão influenciara em coisas terrenas, São Marcos vestiu as sandálias da humildade e apenas pediu: _ Senhor, sei que agi sem sua autorização, não sei se ainda sou digno de sua piedade, mas lhe suplico: se um dia voltar à Terra, quero ser goleiro. Igual àquele ali ó, pois ele sabe levar a felicidade a um povo de boa-vontade.

Adriano Pessini era meu parceiro na cobertura diária do São Paulo. Depois trabalhamos juntos no Agora. Ele tinha sempre reservado no computador um vídeo do youtube em que Luciano do Vallle narrava Marcos defendendo o pênalti cobrado por Marcelinho na disputa da Libertadores. Quando começava alguma discussão na redação, principalmente envolvendo o Corinthians de Romualdo Morales, um gênio, Pessini se retraía. Então, ligava o vídeo a toda. O som tomava conta da redação MAARRRCCOOOOS MAAARRCCOOOS. Romualdo esbravejava e se calava por instantes. Era um cala-boca sonoro.

 

 

2 SUTIL, ELEGANTE E MATADOR

LUIS AUGUSO MONACO

 

Gosto de jogador que é mestre na arte de ludibriar o adversário, aquele que dá pinta de que vai fazer uma coisa e faz outra. Ajeita o corpo como se fosse chutar no canto direito e manda no esquerdo, ameaça uma bomba e resolve o lance com sutileza.

Romário cansou de enganar goleiros na hora do mano a mano, Reinaldo, o Rei do Galo, fez a maioria dos seus gols com jeito, pondo a bola longe do goleiro. E um dos meus primeiros ídolos, no tempo em que futebol a gente acompanhava pelo radinho, também foi um especialista na arte de iludir.

Jorge Mendonça era o retrato da elegância em campo. Camisa dentro do calção, meias erguidas até pouco abaixo do joelho (e não quase até a coxa, como os Marcinhos Guerreiros gostam de usar), uniforme sempre limpo porque jogava em pé. Ele sabia fazer gol de todo jeito, mas o que eu gostava mesmo era de suas cobranças de falta. Principalmente dos gols que ele fazia em Jairo, sua vítima preferida.

O camisa 1 do Corinthians era um negro espichado, que chegou à Seleção. Mas, como diria o Gérson, demorava uma semana e meia para cair quando a bola era rasteira. E era assim que Jorge Mendonça o castigava. Falta na entrada da área, e Osmar Santos assanhava os palmeirenses e apavorava os corintianos. "Capricha, garoto, capricha que o placar não é teu." E a fera caprichava. Jairo esperava um chute por cima da barreira, mas Jorge Mendonça dava um toque maroto, rente à grama, no canto do goleiro.

E lá vinha o grito do Osmar: "Eeeeeeeee queeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee gooooooooooooool….." No Paulistão de 76, ele fez o gol do título contra o XV de Piracicaba na penúltima rodada. Na última, o jogo das faixas seria contra o Corinthians no Morumbi. E meu pai resolveu levar a mim e aos meus irmãos para ver os campeões. Como valeu a pena… Em 10 minutos já estava 2 a 0, com dois gols do meu ídolo. Um de bola e tudo e outro de falta, com sua marca registrada. No final, 2 a 1.Lamentei quando ele foi vendido para o Vasco, mas continuei seu fã. No Guarani ele jogou demais. Fez 38 gols no Paulistão de 81, e protagonizou um duelo espetacular com Zico na semifinal do Brasileirão de 82. O Flamengo ganhou por 3 a 2 no Brinco, com três gols do Galinho e dois de Jorge Mendonça.

A carreira acabou, a bebida o deixou na miséria e por fim o matou. Mas sua arte sobrevive nos arquivos das tevês e na minha memória.

Luis Augusto Monaco, amigo e parceiro há tanto tempo, mostra nesse texto sobre Jorge Mendonça, seu amor ao futebol como dom de ilusão. O futebol que foi praxe por aqui e que agora, tomara que temporariamente, está em outras paragens. O Guto fala que tem esse estilo no society, mas é mentira dele

 3 ESTRELA GUIA

JOSÉ CLÁUDIO MANESCO

OADEMIR craque da minha vida nunca foi craque de mídia e muito menos craque da mídia.

Economizava nas palavras, não alimentava polêmicas.

Antes fugia com a mesma elegância com a qual perseguia a bola vadia nos gramados da vida.

Cerebral, corria com os olhos fazendo da bola um brinquedo redondo que ia e vinha enfeitiçada por sua maestria. Não era de subir no alambrado, de bater no peito ou beijar distintivo.

Não falava de segunda pele, jamais fez juras de amor, não usava tatuagens e nem nada prometia. Era sempre da mesma forma e que forma mais esguia. E os gols que o meu time fazia não raramente eram assinados por sua letra fria

. Certamente não foi prosa, mas poesia: moderna, sintética, invisível. Indivíduo coletivo, aparecia escondido no brilho dos seus parceiros. Na constelação dos meus ídolos ele foi e é minha estrela (Ademir da) Guia

O camarada Cláudio Manesco, amigo de tantos tempos, nessa poesia respondeu uma dúvida que sempre me perseguia. Se Ademir não chutava como Rivellino, se não cabeceava como Pedro Rocha, como poderia ser tão ídolo assim? A resposta está aí, estúpido.

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.