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São Paulo troca coronel assistencialista por moderninho segregacionista

Menon

16/09/2014 22h56

O presidente que saiu é histriônico, brincalhão, tem um sotaque inexplicável, é centralizador, autoritário, intuitivo e acredita em dinheiro vivo como fonte de inspiração a jogadores.

O presidente que entrou é contido, brinca pouco, usa óculos modernos, emagreceu muito desde a última gestão, promete descentralizar o poder e acredita em gerenciamento por metas criadas após uma auditoria. Para ele, o clube precisa de um CEO.

Falando assim, fica claro que a mudança significou uma passagem rápida do atraso para a modernidade. O clube saiu de uma gestão patrimonialista para algo profissional. O século 19 dando lugar ao futuro.

Será mesmo? Lembremos que o Moderno foi apoiado e conduzido ao poder pelo Velho.

As brincadeiras do Velho nunca ofendem. As piadas do Moderno são preconceituosas e segregacionistas. O Velho teve brigas enormes contra o Corinthians. Foi ele que terminou com a ideia de torcidas iguais no Morumbi. Mas manteve as pontes erguidas. Não fechou canais de conversação. Sempre houve espaço para um telefonema. O Velho nunca humilhou o rival. Humilhou, sim, o presidente Andrés Sanchez, com a história do "Mobral inconcluso".

E o Moderno? Começou dizendo que Kaká é o típico jogador do São Paulo porque tem todos os dentes. Antes, havia dito que Itaquera é outro mundo. Na primeira, humilhou os rivais. Na segunda, o são-paulino pobre, que vive em Itaquera. É lógico que mirava nos corintianos, mas acertou os são-paulinos também.

O Moderno veio com a ilusão de comandar todos os rivais. Foi rejeitado. Como poderia ser diferente, depois de chamar o Palmeiras de um time pequeno dirigido por um presidente juvenil?

E a gestão? É correto dizer que é Velho quem criou o Reffis e Cotia?

Aliás, Cotia é a pedra de toque para se definir de onde para onde caminhou o São Paulo.

Como gerir Cotia? O Velho bate no peito que aquilo é um forte contra a chegada de empresários sequiosos. À boca pequena, o que se ouve é algo do tipo "tem coisa errada lá. Por que Geraldo (o ex-administrador) é tão blindado?

O Moderno que adora piadas segregacionistas agora tem o caminho livre para gerir Cotia. O que fará? Liberará a presença de empresários? Fará um Expressinho para usar jogadores que estourem a idade? Revelará muito mais jogadores do que agora? Haverá uma integração maior entre a base e o profissional?

Esperemos pela designação do CEO. Esperemos pelos próximos passos. Assim, será possível ver se o São Paulo trocou o Compadrio pela Gestão. Ou se trocou apenas o sotaque inusitado pela voz mansa, com cuidados especiais com a concordância verbal e nominal.

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.