Flecha era um gigante. Ximit é desprezível.
Flecha estava ferrado.
Justamente ele, o rei da raquete, o ponto certo para a Engenharia de Lins, nos jogos Inter-Eng em Lins ou Eng-Med, em Barretos.
Flecha não errava. Saque tinha mais curvas que estrada boliviana. Defendia muito e atacava com força. Não perdia nunca.
Aquele dia, não. Já se passaram 30 anos, minha memória não é boa, não lembro quem era o adversário, mas me lembro que o placar era 20×17. Para eles.
20 a 17 a favor, com saque. Três chances para fechar o set e o jogo.
Eu me lembro do rosto do Flecha. Nitidamente. Estava lívido. Seu rosto era todo tensão. A concentração era total. Flecha não errava.
Respondeu ao saque com uma cortada de direita, na diagonal. Inacreditável, não tentou apenas defender, não ficou na retranca. Ele atacou o ataque do cara.
Fez o ponto, fez o set, fez o jogo. Como sempre.
Era um dos destaques da Engenharia, como o Miltinho do basquete, como o time de futsal, com Índio, Pira, Bracinho, Japilda, Makoto… Como o futebol, com Boquita, Zoinho e Manezinho. Como o Marin, que jogava tudo. Uma vez, em Barretos-78, comandou o time de vôlei em uma vitória insuspeita e inesperada. Na torcida, gritávamos Tu-ní-sai, em relação à grande participação dos africanos no Mundial.
Os jogos eram duros, disputados, com árbitros das cidades, mas sempre honestos. O campeonato de repúblicas da Engenharia era ótimo, a final sempre ficava entre Butecão e Kilowatt. Porrada, briga e cerveja.
Na quadra, sem tribunal.
O esporte forja caráter. Tenho amigos ainda do meu time da rua general osório, lá em Aguaí. Amigos que forjei em jogos na rua de terra há 50 anos.
Me lembro de tanta gente boa que conheci no esporte – Valdirzinho, Ratão, Mirtu, Zeca, Wirsu, Paulo Grillo, Vermeio, Chiquinho, Passional, Kissinger (grande centro avante, que formava dupla letal com Frango), Ruy Sasso, Chico Braga, tanta gente – e recorro a eles para explicitar novamente meu nojo aos tribunais esportivos.
A punição ao Guerrero é injustificada. Tirar um artilheiro do campeonato, tirar um trabalhador de sua profissão por decisão de um tal Paulo Schmitt, sempre buscando holofotes, é imoral.
É danoso ao futebol. É péssimo ao esporte. Afasta crianças da paixão.
Qualquer timinho de rua, qualquer competiçãozinha de condomínio, qualquer joguinho de vôlei entre garotinhas estará sujeito à discussão fora do campo. Vamos criar crianças com vontade de ser Paulo Schmitt. Nem sei se o nome se escreve assim e nem vou procurar. Não vale a pena.
Essa gente, Schmit, Marin, Del Nero nunca terá a dignidade, nunca terá a altivez e a coragem com que Flecha respondeu àquele saque.
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