Com o segundo título brasileiro, Fábio vai se tornar uma unanimidade?
O jogo contra o Goiás significou um passo a mais na carreira de Fábio no Cruzeiro. Ele completou 603 partidas e, como tem contrato até 2016, está claro que ultrapassará Dirceu Lopes (610) e Zé Carlos (633 jogos) e será o jogador que mais vezes vestiu a camisa celeste.
A vitória contra o Goiás também faz com que Fábio se aproxime dos ídolos dos anos 60. Seu segundo título brasileiro seguido serve para mostrar ao torcedor que o goleiro, sempre constante, titular há dez anos também pode ser unanimidade.
O reconhecimento a Fábio não é unânime. Lógico que há muitos torcedores que o reclamam na seleção, mas também há os rabugentos, sempre prontos a lembrar que o jejum de títulos nacionais do Cruzeiro – 2003 a 2012 – tem muito a ver com a presença de Fábio, titular desde 2005. O fato de ser vice-campeão brasileiro em 2010 e vice da Libertadores em 2009 serve apenas para aumentar a desconfiança. Afinal, quem aceita a perda de um título internacional jogando em casa contra o Estudiantes?
A partir de hoje, ninguém pode acusa-lo de constância sem brilho. Já pode ser equiparado a Dida, campeão da Libertadores-97 e a Raul, o ídolo de camisa amarela dos anos 60, cacmpeão da Copa do Brasil sobre o Santos de Pelé.
Ao alcançar a glória e o reconhecimento, com certeza Fábio Deivison Lopes Maciel, acreditará estar apenas cumprindo um designio de Deus. Evangélico fervoroso, tudo deve a Deus, a cada oportunidade louva e eleva o senhor de sua fé. A conversão ocorreu em 2007.
A desconfiança da torcida era grande. Fábio, que esteve no Cruzeiro em 2000 – foi campeão da Copa do Brasil na reserva de André – voltava ao clube, depois de conseguir sua rescisão cm o Vasco, por problemas salarias.
Começou bem e foi até convocado por Dunga em 2006. Mas em 30 de agosto, sofreu um frango em chute de Ramon, do Grêmio. Em 29 de abril do ano seguinte, sofreu o "gol de costas" que o acompanhará para sempre.
Era decisão do campeonato mineiro – campeonato estadual é aquele que torcedor despreza antes do início mas sofre quando perde, como se fosse o mais importante do mundo – e o Atlético vencia por 3 a 0, com gol de Marcinho, de pênalti, aos 43 minutos do segundo tempo. Na saída de bola, Vanderlei desarmou o zagueiro Luizão e definiu para o gol vazio. Fábio voltava à sua posição e estava de costas. Não viu a bola entrar. Para o torcedor do Galo, será sempre Fábio de Costas.
Sob suspeita e com o joelho machucado, Fábio estava em casa, zapeando a televisão. Caiu em um canal evangélico. Ia mudar, rapidamente, quando ouviu que o pastor dizendo que a oração seria para quem tinha problemas no joelho. Considerou aquilo um aviso. Converteu-se e afirma a quem quiser ouvir que recuperou-se do problema no joelho com dois meses de tratamento, quando os médicos falavam em seis meses.
A partir de então, não há entrevista pós jogo em que não dedique o trabalho a Deus. Em que não repita ter sido abençoado, ter entregue a vida a Deus, ser apenas um servo de Deus. Na luta para propagar a palavra divina, foi ao presídio rezar com o goleiro Bruno, acusado de assassinado de Elisa Samúdio.
Não se sabe se converteu o amigo de profissão, mas a visita provavelmente fez com que tenha ganhado um novo fã. Bruno deve estar feliz com a conquista de quem foi vê-lo no cárcere.
Deus a parte, se é que isso não vá ofender Fábio, a verdade é que ele está em ótima forma. A partida contra o Grêmio, no meio da semana, foi espetacular, inesquecível. No mínimo, é um antídoto, uma vacina, aos que ainda insistem em chamar um bicampeão brasileiro de "Fábio de Costas".
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