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Menon

Estádios divididos para que a cidadania vença os assassinos em potencial

Menon

10/02/2015 15h17

Eu  não sou um cara de bravatas, não sou daqueles jornalistas que amplificam sua indignação, que gritam e falam e falam e gritam. Não sou assim, sempre aceito mudar de opinião e mais ainda, gosto de moldar minha opinião a partir de conversas e troca de conhecimento. Lógico que há assuntos em que tenho opinião pétrea. Não mudo mesmo. Digo sem medo de errar que se alguma ente querido for assassinado eu continuarei sendo contra a pena de morte. Questão de princípios. Quando lamentei a morte do brasileiro na Indonésia, chegaram a dizer que eu era a favor do tráfico. Nada disso. Traficante precisa ser coibido, precisa ser punido duramente. Mas, volto a dizer, continuo contra a pena de morte.

É assim que eu me sinto dando minha opinião contra a ideia da torcida única. Sou contra por princípio. É contra a cidadania. É contra o futebol como espetáculo de massa. É contra o direito de ir e vir. Se tem um jogo que custa XX e eu tenho XXX para gastar, como podem me impedir de ir ao jogo? Para mim, optar pela torcida única é um modo de promotores que adoram dar entrevista, que falam imediatamente após alguém abrir uma geladeira de terceirizarem responsabilidades. Não consigo resolver? Então, acaba o assunto. É como costurar a boca de famintos. É como culpar o povo pela falta dágua. Nunca é culpa do poder público. Nunca.

Defendo o jogo com duas torcidas com a mesma tristeza que renego a pena de morte caso o morto seja um parente ou um amigo. Só os princípios me fazem defender o jogo com duas torcidas. Por que? Porque eu não posso ir. Morro de medo de ser atacado em um metrô, de apanhar na rua, de levar um tiro. Sim, porque o jogo com duas torcidas que eu defendo pressupõe que uma delas seja formada por assassinos potenciais. Ou não.

Entre eles, pode estar os que estiveram em Oruro. Podem estar aqueles de 1995 no Pacaembu. Podem estar os que marcam desafio na Anchieta. Podem estar os anormais que cantam aquelas idiotices em enterro de amigos. Nada de choro, nada de tristeza, nenhuma Ave Maria… O que temos é gambá, bambi, porco, peixe, vou pegar, vai morrer, vamu são Paulo, sou gavião etc etc. Idiotices cantadas por idiotas.

Como impedir que eles tomem conta dos estádios? Que aqueles 5% da torcida rival sejam destinados aos que querem matar?

A primeira ideia é inviável. Acreditar que os clubes passem esses ingressos para sócios torcedores e não para bandidos organizados. Isso é impossível por dois motivos: 1) a Polícia não conseguiria garantir a vida dos "normais" 2) os dirigentes não aceitam enfrentar os delinquentes.

2) A segunda ideia veio de conversas com Vitor Guedes e Chico Silva, dois grandes amigos. Os estádios precisam voltar a ser divididos. Metade para cada torcida. Então, haveria 30 mil corintianos no Morumbi. Vinte mil cidadãos e 10 mil assassinos em potencial. No Itaquerão, teríamos 20 mil são-paulinos. Quinze mil cidadãos e cinco mil assassinos em potencial. O mesmo vale para as torcidas de Palmeiras e Santos. A força dos marginais ficaria diluída.

Sempre foi assim.

É possível fazer com que a cidadania prevaleça.

Sobre o assunto, recomendo dois textos muito bons.

O BARNEschi @forzapalestra escreveu esse:

http://forzapalestra.blogspot.com.br/2015/02/2-bp-choque-x-sociedade-civil.html

O  Ubiratan Leal @ubiraleal escreveu esse

http://trivela.uol.com.br/excluir-torcida-visitante-e-mais-uma-prova-de-como-autoridades-nao-gostam-de-lidar-com-pessoas/

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.