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Lambreta não pode? Xavi e Robben querem impor cultura, como colonizadores

Menon

01/09/2015 06h08

Quando Arjen Robben reclama de um drible de Douglas Costa, eu me lembro imediatamente de Maurício de Nassau. Ou, para não parecer implicante, de José de Anchieta.

Dizer o que pode e o que não pode – quando não há leis a respeito do assunto – é querer impor sua ideia, seu modo de vida, sua visão de mundo. Como Anchieta catequisando índios, forçando-os a esquecer Tupã em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Ou como Nassau, o antepassado de Robben. Chegou ao Brasil em 1637, quando a invasão holandesa a Olinda – seta anos antes – havia se consolidado. Ficaram por aqui até 1654, quando foram expulsos por colonos e soldados portugueses.

Há quem lamente o fato. Dizem que o Brasil seria muito melhor se colonizado pelos holandeses. Talvez se mirem no exemplo do Suriname.

Robben decide que o drible de Douglas Costa é humilhante. Xavi decide que o drible de Neymar é humilhante. Em nome do quê? Do passe? Da objetividade? Da posse de bola? Da humildade?

A discussão é inócua.

  1. Se analisarmos rasamente, não há nada que proíba o drible. Errado é o pontapé. Xavi reclamaria de uma falta dura cometida por Macherano?
  2. Um drible humilhante humilha (desculpem a redundância) o adversário. E o torna mais fraco. Aproxima o time da vitória.
  3. Mas o pior, em minha opinião, é a vontade de proibir. Proibições são autoritárias, são frutos da ditadura. Ao se proibir algo, abre-se a caixa de Pandora. O que vem depois? Qual será a próxima proibição? E se alguém, baseado não se sabe em qual motivo, determinar que é errado um winger canhoto jogar aberto na direita, entrar pelo meio e chutar? Pode-se dizer que é humilhante, que se está enganando alguém etc etc… O que seria de Robben/

Me permitam uma digressão. Robben é excelente. Muito melhor que Douglas Costa. Digo isso para que a discussão sobre o tema siga sem preconceitos. Hoje, nesse Brasil colonizado futebolisticamente falando, se um brasileiro elogia o drible é chamado de Pacheco, e logo todos se lembram do 7 a 1.

Robben é ótimo, mas não seria titular na seleção da América do Sul. Onde coloca-lo em um quarteto formado por James, Neymar, Messi e Suárez?

Robben, Xavi e outros que reclamam de dribles, na verdade estão mostrando seu medo atávico por aquilo que não entendem. Não sabem fazer e se assustam. Querem proibir. Como os homens da caverna temiam os raios.

O drible esculachado e humilhante não é falta de profissionalismo. Falta de profissionalismo é jogador brasileiro chegar na Europa, ganhar três meses de um salário altíssimo e ficar com saudade do feijão da sogra ou do macarrão da mamma e querer voltar. E forçar a volta. Como Bernard fez.

Driblar é exercer a liberdade, é desafiar os cânones. É provar a Xavi e Robben que a menor distância entre dois pontos não é uma reta. É um drible. Como já havia provado o matemático Manuel Francisco dos Santos, também conhecido por Garrincha.

Se a colonização holandesa tivesse prosperado, Garrincha seria Van Santos e Pelé, Van Nascimento. Talvez não tivessem o poder do drible. Talvez a Holanda fosse campeã.

Talvez, talvez….A certeza que me acompanha é que, se houvesse futebol em 1630 e se a presença dos holandeses fosse decidida em uma pelada e não através de guerra, ela duraria muito pouco. Não teria nem melhor de três. Os antepassados de Douglas Costa venceriam os antepassados de Robben.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.