Lambreta não pode? Xavi e Robben querem impor cultura, como colonizadores
Quando Arjen Robben reclama de um drible de Douglas Costa, eu me lembro imediatamente de Maurício de Nassau. Ou, para não parecer implicante, de José de Anchieta.
Dizer o que pode e o que não pode – quando não há leis a respeito do assunto – é querer impor sua ideia, seu modo de vida, sua visão de mundo. Como Anchieta catequisando índios, forçando-os a esquecer Tupã em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Ou como Nassau, o antepassado de Robben. Chegou ao Brasil em 1637, quando a invasão holandesa a Olinda – seta anos antes – havia se consolidado. Ficaram por aqui até 1654, quando foram expulsos por colonos e soldados portugueses.
Há quem lamente o fato. Dizem que o Brasil seria muito melhor se colonizado pelos holandeses. Talvez se mirem no exemplo do Suriname.
Robben decide que o drible de Douglas Costa é humilhante. Xavi decide que o drible de Neymar é humilhante. Em nome do quê? Do passe? Da objetividade? Da posse de bola? Da humildade?
A discussão é inócua.
- Se analisarmos rasamente, não há nada que proíba o drible. Errado é o pontapé. Xavi reclamaria de uma falta dura cometida por Macherano?
- Um drible humilhante humilha (desculpem a redundância) o adversário. E o torna mais fraco. Aproxima o time da vitória.
- Mas o pior, em minha opinião, é a vontade de proibir. Proibições são autoritárias, são frutos da ditadura. Ao se proibir algo, abre-se a caixa de Pandora. O que vem depois? Qual será a próxima proibição? E se alguém, baseado não se sabe em qual motivo, determinar que é errado um winger canhoto jogar aberto na direita, entrar pelo meio e chutar? Pode-se dizer que é humilhante, que se está enganando alguém etc etc… O que seria de Robben/
Me permitam uma digressão. Robben é excelente. Muito melhor que Douglas Costa. Digo isso para que a discussão sobre o tema siga sem preconceitos. Hoje, nesse Brasil colonizado futebolisticamente falando, se um brasileiro elogia o drible é chamado de Pacheco, e logo todos se lembram do 7 a 1.
Robben é ótimo, mas não seria titular na seleção da América do Sul. Onde coloca-lo em um quarteto formado por James, Neymar, Messi e Suárez?
Robben, Xavi e outros que reclamam de dribles, na verdade estão mostrando seu medo atávico por aquilo que não entendem. Não sabem fazer e se assustam. Querem proibir. Como os homens da caverna temiam os raios.
O drible esculachado e humilhante não é falta de profissionalismo. Falta de profissionalismo é jogador brasileiro chegar na Europa, ganhar três meses de um salário altíssimo e ficar com saudade do feijão da sogra ou do macarrão da mamma e querer voltar. E forçar a volta. Como Bernard fez.
Driblar é exercer a liberdade, é desafiar os cânones. É provar a Xavi e Robben que a menor distância entre dois pontos não é uma reta. É um drible. Como já havia provado o matemático Manuel Francisco dos Santos, também conhecido por Garrincha.
Se a colonização holandesa tivesse prosperado, Garrincha seria Van Santos e Pelé, Van Nascimento. Talvez não tivessem o poder do drible. Talvez a Holanda fosse campeã.
Talvez, talvez….A certeza que me acompanha é que, se houvesse futebol em 1630 e se a presença dos holandeses fosse decidida em uma pelada e não através de guerra, ela duraria muito pouco. Não teria nem melhor de três. Os antepassados de Douglas Costa venceriam os antepassados de Robben.
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