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São Paulo vai da lama à pizza. Leco permitirá?

Menon

12/10/2015 11h00

O cheiro fétido e podre rapidamente começa a dar lugar à delícia que é o odor do orégano. O Morumbi, envolto em lama, corre celeremente para uma saborosa pizza. A diferença? Carlos Miguel Aidar não participará mais do banquete dos cardeais.

Sua cabeça foi entregue. E tudo vai parar por aí. No São Paulo, clube que adora se ver como soberano, como representante de uma elite que não existe mais no país da ascensão social, tudo se resolve entre quatro paredes.

E as quatro paredes não ouvem ruídos lascivos de prazer. Ela vê acordos, conchavos e acertos que visam deixar tudo como está. O clube continua sendo antidemocrático, fechado, com sócios sem direito a nada, com sócio-torcedor podendo apenas pagar e com torcedores sofrendo humilhações diárias.

Quem manda são os iluminados. Duzentos e poucos, nem sei quantos. Os mandarins. Os cardeais. Os que se acertam entre conversas sigilosas. A república dos punhos de renda. Mistic River de Dennis Lehane é pouco.

Ataíde Gil Guerreiro gravou uma conversa com Aidar em que supostamente está escancarado o processo de corrupção no São Paulo.

Por que supostamente, se Aidar renunciou?

1) Supostamente porque os cardeais não deixarão a patuleia saber o que estava gravado. Eles vão se acertar e nada será conhecido.

2) Supostamente porque Ataíde voltará ao poder, com Leco. E não saberemos o que está gravado. O que nos leva a duas conclusões. a) algo de grave existe porque Aidar renunciou b) Ataíde não quer ir a fundo, quer apenas voltar ao comando do futebol.

3) Supostamente porque eu preciso me precaver. Vai que os dois cardeais se acertam e resolvam me punir.

A pacificação do São Paulo não deve vir com esquecimento. Leco sempre sonhou com o cargo de presidente do São Paulo. É um sonho legítimo. Para conseguir sua realização, vai participar de um acordo que pressupõe o engavetamento da gravação de Ataíde?

Não pode ser assim. Muito ele fará pelo clube que ama se assumir e romper qualquer acordo que tenha sido feito. Há que escancarar o que está gravado. Há que ir fundo na lama. Só entã0, se pode pensar em uma pizza decente. Sem engulhos.

O São Paulo é um clube em decadência. Não me ofendam, eu sou apenas o carteiro. É um clube com o mais belo estádio paulista, mas que já não é uma fonte de renda. É um clube sob suspeita da Lei. O caso Maidana pode impedir até contratações na próxima janela. É um clube fechado, sem democracia. É um clube que deve milhões e arrecada pouco.

Leco, um dos cardeais, assumiu o comando. Está em uma encruzilhada. Há dois caminhos a seguir.

1) Deveria mudar o estatuto, deveria buscar apoio no sócio-torcedor, no torcedor comum, abrir novos canais de comunicação, expor o pus da corrupção, retomar a credibilidade do clube no mercado. Será, então, lembrado para sempre como alguém que salvou o clube.

2) Repetir Robert Johnson, o genial blueseiro, que teria feito um pacto com o Demônio. Nesse caso, Leco será lembrado como mais um cardeal que dirigiu o clube em seu caminho rumo à falta de grandeza. Como alguém que costurou um grande acordo para garantir sua eleição. Como alguém que ouviu algo terrível e guardou para si. Como um homem que não esteve à altura do momento histórico que viveu.

Leco precisa entender que não há pacificação maior do que nos cemitérios. E o seu São Paulo não merece a paz dos mortos.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.