Tite e Telê pertencem a dois mundos diferentes
Não há comparação possível entre Telê e Tite. Eles pertencem a Brasil diferentes, separados por vinte anos que parecem vinte séculos. Naquele Brasil, o futebol que se praticava aqui era mais forte. E não vai aqui nenhum saudosismo. Nada de pensar que o que já se foi é sempre melhor do que o que virá. Era melhor por uma razão simples: os jogadores ainda ficavam por aqui um tempo antes de saírem para a Europa. O êxodo estava começando, mas não era como hoje.
Em 93, São Paulo e Palmeiras se enfrentaram em 4/12/93, oito dias antes de o São Paulo vencer o Milan, em Toquio, pelo Mundial Interclubes. Os dois times que dominava a cena paulista levaram a campo jogadores como Zetti, Cafu, Ronaldão, Leonardo, Juninho (que ainda não era Paulista), Toninho Cerezo, Muller, Antônio Carlos, Roberto Carlos, Cesar Sampaio, Mazinho, Edilson, Zinho e Edmundo. Em comum, todos participaram de Copas do Mundo. Além deles, estavam no jogo André Luiz, Valber, Palhinha, Cleber e Evair, que não foram a Mundiais. E ainda teve Dinho e Amaral, que tiveram menos destaque no futebol.
O time de Tite também tem bons jogadores, mas a quantidade naquele tempo era maior. Talvez por isso, ele privilegie mas a parte tática. Viu bem o que tinha na mão e, a partir do primeiro jogo do ano, na pre-temporada, já foi germinando o seu 4-1-4-1 que tomava conta de suas ideias e projeções já no 2014 sabático, quando andou estudando o que se tem de mais moderno na Europa.
Telê, não. A tática era secundária. O time e sustentava no aprimoramento da técnica para que o conceito de ofensividade fosse colocado em prática. Os jogadores treinavam passe e mais passes. Havia velocidade, mas também a paciência para se tecer uma teia que o adversário fatalmente cairia. A bola rodava, de pé em pé, da direita para o meio, do meio para a esquerda e tudo de novo, ao contrário, até que se achasse o espaço para o arremate.
Acredito que, um embate entre um time de Telê e um de Tite, caberia a Tite quebrar a a cabeça para, diante da postura do rival, conseguir uma alternativa tática que impedisse a superioridade técnica. E nem falo aqui do São Paulo bicampeão do mundo. Todo time de Telê era assim. A bola era bem tratada, mesmo que os jogadores não fossem acima da média. Foi assim com o Palmeiras de 79, por exemplo, que tinha Gilmar, Rosemiro, Marinho, Jair Gonçalves e Pedrinho, Ivo, Pires e Osmir, Jorge Mendonça, Zé Mário e Nei ou Baroninho.
Com o fosso econômico entre Europa e América do Sul, fica difícil para Tite sonhar em conseguir dois títulos mundiais como Telê conseguiu, contra Barcelona e Milan. Fica mais fácil, também devido ao fosso econômico entre Corinthians e rivais, ganhar Brasileiros. E isso não tira seus méritos.
Que Tite chegue à seleção e consiga o título que Telê não conseguiu. Menos para acender discussões sobre quem e o melhor, mas para que o Brasil volte a ser respeitado como não é mais. Ou, quem sabe, que seja amado como foi em 82, mesmo com derrota.
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