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Gabriel Jesus, o predestinado. Personagem da Semana

Menon

29/02/2016 12h08

O primeiro nome é o do anjo que comunicou à Maria que ela teria um filho, mesmo sendo virgem. O segundo nome é o do filho da Virgem. E o garoto usa a camisa 12, que pertencia ao Santo. Para jogar em um clube que reverencia até hoje e até sempre o Divino Ademir

Há algo de místico em Gabriel Jesus. A anunciação. Ele é o craque feito em casa que todo palmeirense anseia. Algo que o clube não tem desde Vagner Love.

gabrieljesusE Vagner Love não cumpriu o que se esperava dele. Jogou bem, foi importante, mas voou para outras plagas. E, entre seus voos, pousou na casa do Inimigo. Deixou de ser amado

Gabriel é diferente. Não é midiático, não é bad boy, não é (pelo menos externamente) um sátiro, não é do samba. É o bom menino que todos gostariam de adotar.

É humilde, aceita o banco, não cria problemas. Tem sólida estrutura familiar.

Os militantes políticos, quando descrentes do governo que elegeram, costumam dizer, comparando com as outras opções: "é um governo ruim, mas é o meu governo".

Gabriel não é ruim. Muito pelo contrário. É o predestinado. É aquele por quem o palmeirense esperou sofregamente.

E aí é que está o problema, o paradoxo. Como foi esperado e como é amado e protegido, a torcida deseja que ele tenha um rendimento de alto nível e uniforme. Tem de jogar bem sempre.

É como se algum apóstolo dissesse a Jesus: "essa água vai virar vinho logo ou vai demorar ainda, Mestre?"

Então, na quarta-feira, Gabriel faz um gol maravilhoso. E é aclamado. No domingo, faz uma falta precipitada que resulta em gol da Ferroviária. E o Anjo vira um jogadorzinho comum.

Gabriel tem 18. Ainda deve sonhar com a garota capa da Playboy. Seu ritmo precisa ser respeitado. E o primeiro princípio é acreditar na verdade: ele nunca será Neymar, mesmo com a média neymaristica de gols feitos na base.

Com um pouco de paciência, com mais força física, talvez jogando mais em diagonal, Gabriel Jesus será lembrado como um dos melhores da base, como Junqueira, Catani e Fiume.

E será transformado em um argumento contra a história pratica do gigante Palmeiras de buscar seus craques em outros campos e nunca no campinho da base: Jair da Rosa Pinto, Djalma Santos, Leivinha, Julinho, Leão, Evair, César Sampaio, Dudu e Ademir.

Esse texto foi construído com a ajuda de Mauro Beting, Leandro Beguoci, Danilo Vara, Felipe Giocondo, Diego Iwata Lima, Fernando Cesarotti e Conrado Cacace.

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.