Lugano, honra e dignidade. A última batalha começou
Nunca vi um jogador com o caráter de Diego Lugano. São 30 anos na profissão e nunca vi alguém com tamanha dignidade e com tanto comprometimento com o clube, a torcida e, principalmente, com o futebol. Nossa paixão.
Mesmo os que o consideram tosco, sem técnica, porradeiro, respondam com sinceridade, conseguem imaginar Lugano fugindo de um jogo, forjando uma contusão, indo para a balada em véspera de decisão, dando migué em treino, fazendo panelinha? Fugindo de uma briga?
Eu me lembro de sua chegada ao clube. De como chegou sob o signo da desconfiança e de como saiu sob o signo da idolatria. Do que fez para melhorar o passe, do drama que passou ao viver a incerteza de dar certo ou não e – não vi, mas ele me contou – de como acordava á noite, deixava a mulher na cama e ia para a sala chorar porque não conseguia jogar e se sentia como um traidor da família.
Lugano cresceu e se transformou em capitão da celeste olímpica. Um sonho que todo garoto uruguaio tem, desde o nascimento. Ajudou Tabarez a construir um grupo coeso, em que o coletivo sempre esteve à frente do individual e das picuinhas.
Sebastian Eguren, me disse uma vez, que nunca teve um capitão como Lugano. E deu um exemplo que já repeti aqui duas vezes.
Ele disse que Lugano foi o maior capitão com que conviveu. E lembrou da crise criada por Luis Cavani, pai do atacante da seleção. Ele criticou em entrevista, as atuações de Lugano. Disse que ele estava atrapalhando o time.
A seleção se reuniu e Cavani pediu a palavra. Começou a se desculpar com o capitão. Lugano o interrompeu e disse o seguinte:
"Se algum de nós ofender ou criticar o pai de um companheiro, será motivo para desculpas. O contrário, não".
E o grupo se uniu, sob seu sereno comando.
Agora, Lugano está no fim. É quase impossível que seu contrato, que ainda tem um ano, seja renovado. Nem ele vai querer. São 35 anos, muitas contusões e o retiro parece estar ali, na esquina. Mais 20 jogos?
Desde que voltou ao São Paulo, foram apenas nove jogos. Houve uma falha gritante – não conseguiu subir uma gilette contra o Trujillanos e saiu assim o primeiro gol – e houve outras, menores. Contra o Audax, perdeu uma bola dominada, por exemplo, no primeiro gol. Houve algumas boas "trancadas" também, como antes.
E uma ótima atuação contra o River, em Nuñez.
E houve aquela linda comemoração, junto com Calleri, após um gol agônico contra o Botafogo.
Agora, nova contusão. Muscular. Ficará algum tempo sem jogar. Se o São Paulo não se classificar contra o Strongest, ele só voltará no Brasileiro. Lugano, sem muitas condições físicas, e Breno, lutando para voltar a ser um atleta, são incógnitas do São Paulo,
É a última batalha do capitão. O que se sabe é que nunca fará três jogos seguidos, por exemplo.
A batalha é por terminar o contrato em atividade, servindo, mesmo com pouca constância e eficiência ao time que ama. Sem falhas? Difícil.
O que não se discute é que Lugano sairá da batalha coberto de honra.
A dignidade foi sua companheira em toda a carreira.
Os três – Lugano, honra e dignidade – deixarão juntos o futebol.
É uma tríade inseparável. Indissolúvel.
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