Simeone, o feio que satisfaz. Fui à praia com ele
Foi em 24 de março de 1994. No dia anterior, em Recife, o Brasil, com dois gols de Bebeto e uma grande atuação de Muller, havia vencido a Argentina por 2 x 0. O meio campo deles tinha Redondo, Simeone, Cagna e Leo Rodriguez. Ortega entrou no segundo tempo. Maradona estava no estádio, mas não na seleção. Viria depois, para a Copa do Mundo.
No dia seguinte, fui um pouco à praia. E lá estava Simeone, com uma bela namorada. Um garoto chegou perto e ofereceu algo que vendia, talvez um sorvete. Simeone, educadamente, disse não. E o garoto mostrou dois dedos, como no sinal de paz e amor. "Brasil dois e vocês zero", gritou.
Diego Pablo sorriu o sorriso mais amarelo que já vi. Nitidamente sua vontade era dar um carrinho no garoto. Eu sorri de leve. Me aproximei depois de uns dez minutos e pedi uma palavra. Ele disse que era folga e não daria entrevistas.
Simeone, na eterna dicotomia Brasil x Argentina, sempre foi considerado um jogador sujo. Bobagem, é claro. Jogava duro, marcava em cima, violento algumas vezes, mas nada que milhões de volantes brasileiros não façam.
A diferença é o fogo interno. A chama que não apaga. Simeone é do tipo que só pensa em vencer. Que se sacrifica para o time, que luta do primeiro ao último minuto.
Sem querer, passei a escrever no presente e não no passado. Faz de conta que é um estilo de linguagem. A verdade é que o treinador Simeone tem muito a ver com o Simeone jogador.
Seu Atlético é muito forte na defesa. O sistema funciona e tem muito do dedo do treinador. Os movimentos são coordenados, há sempre uma boa cobertura… Não é acaso.
É fácil chamar de retranca.
Não é apenas isso.
No jogo contra o Bayern, Simeone teve um pouco de sorte, vamos aceitar. Quando estava 1 x 0, Oblak defendeu um pênalti. Definiria o jogo. Talvez nem houvesse aquele outro pênalti, que Torres cobrou e Neuer pegou. Como o Torres é fraco!!!
Mas Simeone foi muito bem no intervalo, ao colocar Carrasco e recuar Kobe. O Atletico passou a ter um desafogo inicial, não foi como todo o primeiro tempo. Depois, do gol de Lewandovski, em falha incrível de Filipe Luiz, foi impossível fazer outra coisa. Contra sufoco, defesa forte. Muito bem treinada.
Quem negar méritos à Simeone, precisa lembrar que seu time está na segunda final de Liga de Campeões em três anos. O Bayern, do muito justamente badalado Pep Guardiola, ficou fora.
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