Topo

Menon

Libertadores é paixão. Mas precisa ser futebol também

Menon

13/05/2016 10h50

Espinha ereta é bom – sempre, na vida e não só no esporte – mas, nós, a plebe ignara, a turba sem rumo, gostamos mesmo é de bunda ralada.

O craque que joga olhando fixamente para o horizonte, que não sabe a cor da grama, que se paramenta com fraque, cartola, batuta e

O genial torcedor do Flu, desenhado pelo fantástico Baptistão

O genial torcedor do Flu, desenhado pelo fantástico Baptistão

chuteira preta será vaiado se deixar um perna de pau qualquer passar por ele sem o combate devido. Intensamente vaiado, como a mulher barbada que se depilou, como Lula na Fiesp, como Michel Temer na CUT.

Em busca de uma metáfora para exemplificar o sentido da paixão no futebol, no esporte, na vida, em tudo, resolvi terceirizar o trabalho. Para que tanto trabalho, se ele, quem mais, o gênio Nelson Rodrigues (aqui, desenhado pelo fantástico Baptistão) disse; disse não, é muito fraco, definiu, determinou e decretou que:

Sem paixão, não é possível chupar um picolé.

Todos queremos paixão. E a paixão no futebol passou a ser identificada com a Libertadores da América.

Criou-se a simbiose: este é um jogo de Libertadores. E o que temos ao adquirir o pacote: jogo pegado, combatividade, busca pelo espaço, entrega, combatividade…

E é aí que a coisa degringola. E o futebol?

Ao fazer com que a paixão deixe de ser um complemento absolutamente necessário para se transformar no próprio jogo, fica tudo muito feio. A paixão é o molho, é a entrada, é a sobremesa, é a bebida, é o acompanhamento. Não é o prato principal.

Se  o futebol não pode prescindir de paixão, a paixão não pode existir sem futebol.

A paixão tem de estar acompanhada também no passe, no drible, no lançamento e não apenas no desarme.

Não existe paixão em Messi, Suárez, Cristiano Ronaldo? Sim, ela não está apenas em Pepe e Mascherano.

Se a Libertadores não tem Messi, Suárez , Neymar, James Rodriguez, não podemos ficar reféns do sub do sub do Mascherano.

Caso contrário, a paixão, para quem não a está vivendo naqueles 90 minutos, se transformará em um grande bocejo.

São Paulo x Galo, por exemplo.

Os torcedores viveram os 90 minutos com a mesma intensidade dos jogadores. Seis volantes ajudados por meias que recuam e por atacantes que fazem falta em laterais. Um acúmulo de jogadores no meio do campo lutando por espaço, dando carrinhos, fazendo faltas, correndo atrás da bola como Indiana Jones atrás do Santo Graaal. Tudo bacana, mas quem não torcia para nenhum dos dois exércitos em campo, poderia bancar o chato e dizer:

Tudo bem, tem paixão, mas…

Na dá para ter um driblezinho que seja?

Não dá para ter um lançamentozinho que seja?

Não dá para acertar três passes?

Não dá para ter ultrapassagem pelos lados do campo?

Os tais jogos pegados, os tais jogos de Libertadores, estão se caracterizando como espetáculos em que um time entra em campo para impedir o outro de jogar. E não, para jogar.

Vejo o tal gol qualificado como um dos culpados. Ele transforma o 0 x 0 em casa como um grande resultado. Permite empatar poer 1 x 1 o segundo jogo. Caramba, é muita mediocridade. Só para lembrar, o 0 x 0 era ironizado pelo narrador Walter Abrahão, que o chamava de oxo. O placar está oxo.

Futebol de Libertadores é uma falácia, amigos.

Pegue um grande time e coloque para jogar. Nem vou citar nome. Pense em um grande time montado pelo seu clube. Em qualquer época, em qualquer tempo e o transporte para esse tal de futebol-libertadores em que se entra em campo para combater e não para se divertir. Ganha fácil, não ganha?

E por que os torcedores de São Paulo x Galo – só para lembrar  o último jogo – reviram os olhos e se extasiam diante do futebol que jogam Rosario Centra e Nacional de Medellin?

Não sou hipócrita, prefiro que meu time ganhe mal do que perca jogando bem. Não sou um teórico esteta que reconhece apenas uma forma de se jogar futebol. Não vejo Simeone como o Grande Satã a ameaçar o Deus futebol.

Nada disso. Só quero que a paixão pelo futebol venha acompanhada de…futebol.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.