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Muricy é gigante. Se fosse Muricivic, estaria livre dos preconceitos

Menon

26/05/2016 13h32

Quando o Brasil se preparava para a Copa de 86, venceu a Iugoslávia, em um amistoso preparatório. Zico foi o grande nome do jogo. João Saldanha, genial comomuricy sempre, descontente com o futebol apresentado, fez seu comentário em menos de um minuto. "Amigos, o Brasil venceu porque Zico se chama Zico. Se Zico se chamasse Zivovic, o Brasil perderia".

Parodiando Saldanha, eu diria que, se Muricy (caricaturado pelo genial Mario Alberto) se chamasse Muricivic, Muricguson, Muricione, Muriciourinho, Muricwoski ou qualquer outra coisa, seria considerado um gênio incontestável aqui nesse Brasil varonil, onde não temos nada a temer a não ser o massacre dos direitos conquistados.

Para deixar claro: Muricy não é um gênio incontestável. É apenas um gigante do futebol brasileiro, que pode estar dando adeus à profissão depois de uma segunda arritimia em dois anos. Para deixar mais claro ainda: as duas vieram em momentos em que seu trabalho era ruim. Contestado com razão.

O último bom trabalho de Muricy foi no São Paulo. Em 2013, impediu a vergonha da segunda divisão. Em 2014, foi vice-campeão brasileiro. Depois, o Flamengo, onde o estágio que fez no Barcelona não apresentou bons resultados.

Nada disso é suficiente para diminuir sua presença na história do futebol brasileiro. Tricampeão seguido pelo São Paulo. Campeão da Libertadores pelo Santos. Campeão brasileiro pelo Fluminense. Três vezes campeão paulista, duas vezes campeão gaúcho, duas vezes campeão pernambucano.

Todo estrangeiro com um currículo assim seria recebido com tapete vermelho no Brasil. Sua despedida receberia lágrimas em profusão, possíveis de serem armazenadas em baldes.

Muricy sofre dois tipos de críticas. As sérias e as preconceituosas. As sérias apontam para sua dificuldade em deixar de lado o Muricybol, baseado em bola parada, marcação, contra-ataque e pouca preocupação com o tal jogo bonito. Ou seja, o pragmatismo tão elogiado em Simeone é muito criticado em Muricy. Eu vi um grande erro de Muricy: na final do Mundial interclubes, quando optou por enfrentar o Barcelona com três zagueiros em vez de povoar o meio de campo. Permitiu que o jogo fosse disputado muito perto de sua área. Foi suicídio.

O outro tipo de crítica é de jornalistas que implicam com os plurais inexistentes e com o "dibre". Como se a educação formal fosse tão importante no futebol. São jornalistas que se acham acima de tudo, que se consideram gênios da literatura mundial. Verdadeiros Saramagos, híbridos de Vargas Llhosa e Garcia Marquez e que escrevem – como dizer? – oquei. Certinho. Como milhões. Não são guadiolas do computador. São menos, muito menos, que muricys.

Mesmo que usassem milhões de borrachas não apagariam a obra de Muricy Ramalho. Uma obra gigantesca, baseada no pragmatismo de resultados. E que resultados!! Merece muito mais respeito do que recebe. Se fosse argentino, seria endeusado como tantos outros pragmáticos. Como Patón Bauza, por exemplo. Será que Bauza erra concordância em espanhol? Difícil saber. Os preconceituosos que atacam Muricy não falam – em sua maioria – espanhol.

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.