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Torcida única, "gente de bem" e Marco Polo del Nero

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30/06/2016 11h10

torcidaunicaParticipei de uma audiência pública sobre Torcida Única, organizada pelo deputado Luiz Fernando Teixeira. Foram três mesas: 1) a primeira, com presença de deputados ligados à segurança pública e a equipes de futebol, mais o deputado Capez e o promotor Paulo Castilho, além de representantes da FPF e CBF.

2) a segunda, comigo e os companheiros Rodigo Vessoni e Mauro Cezar Pereira, que estudam muito o assunto

3) a terceira, com os responsáveis pela segurança pública nos estádios. Não vi porque precisei sair para trabalhar.

Um resumo?
Na primeira mesa, a maioria dos deputados era contra a torcida única. Geralmente, usaram o argumento de que brigas ocorrem longe dos estádios e sobre o direito de ir e vir. O deputado Chico Sardelli contestou, dizendo que o verdadeiro direito de ir e vir é o cidadão poder voltar vivo de um jogo de futebol.

Paulo Castilho reafirmou que a medida de torcida única havia inibido a violência. Que não existe nenhuma afronta à democracia pois o direito do cidadão não está acima do direito da sociedade.

Disse também que para falar sobre o assunto é preciso estudar segurança pública. Que não pode ser para todos.

MINHA INTERVENÇÃO.

Eu avisei que todos teriam em seguida as apresentações de Mauro Cezar e Vessoni. E que eu falaria como cidadão.

1) Torcida única é um frontal atentado ao sagrado direito de ir e vir. Se eu quiser ir a um show do Paulinho da Viola não posso porque ele é Portela e eu sou Vila Isabel. Hipoteticamente falando.

2) Torcida única é um atentado ao Estado de Direito, mesmo quando nosso parâmetro de democracia é sermos governados por Temer, Jucá e Padilha, outros sem votos.

3) Muitos deputados falavam em "gente de bem", que esse é o tipo de torcedor que eles desejam em campo. Disse que "gente de bem" é um epíteto discricionário, próprio de estados ditatórias. Lembrei que no Chile, após a queda de Pinochet, jovens eram obrigados a cortar o cabelo, para serem "gente de bem". Argumentei que é um grande erro falar em "gente de bem" e mandar abraços a Marco Polo del Nero, que dirige a CBF uma entidade ligada a corrupção há décadas. Marco Polo não pode sair do Brasil, Marin foi preso, Ricardo Teixeira e Havelange precisaram fazer acordos. Nenhum torcedor fez mais mal ao futebol do que esses senhores.

4) Dirigi-me a Paulo Castilho. Disse que, se apenas os estudiosos de segurança pública podiam falar sobre o assunto, não precisaria haver a audiência púbica. Falei que não tinha a onisciência dele e não diria que pode entender de segurança pública, mas não entende nada de futebol. Diria, sim, que o futebol que ele defende vai contra toda a história do futebol brasileiro, toda a cultura brasileira.

Futebol são 22 em campo, uma torcida de um lado e outra torcida do outro. E com a polícia garantindo a vida e a integridade física dos cidadãos. Como? Problema deles. Aliás, eu repeti aqui uma fala do deputado Olin, ligado à policia. Só que ele disse "problema nosso", vamos pedir mais armas, melhores salários etc.

Disse que o próximo passo seria o jogo sem torcida. Todo mundo em casa, no sofá. Falei que isso é errado porque mesmo em casa tem briga. O idílio de uma palmeirense e seu namorado corintiano vendo o jogo só dura até um pênalti mal apitado. Vira briga.

Falei que acho uma bobagem isso de torcida mista. Todos juntos. Me lembrei do jogo São Paulo x Flamengo, onde uma são-paulina estava com o marido rubro-negro. O São Paulo fazia um gol, ela beijava a careca dele. O Flamengo fazia um gol, ela beijava a bochecha dela. E a televisão mostrava tudo. Ora, aquilo era combinado. Um beijo e um olhar para a televisão. Algum dos dois queria mesmo ver o jogo.

Por fim, disse que os promotores gostam de penas midiáticas. Me lembrei de quando Cristian fez um gol no São Paulo, no último minuto do jogo e mostrou os dedos para a torcida do São Paulo. Um promotor, não me lembro se Paulo Schmidt ou Paulo Castilho disse que ele deveria ser preso e que abriria processo.

Nesse momento, o promotor se irritou e interrompeu minha fala.

Você precisa ter mais respeito para que possamos ficar na mesma mesa.

Eu não estou desrespeitando você.

Está sim. Não te dei permissão para me chamar de você; me chame de promotor.

Então, me chame de especialista.

Uma explicação. Eu trato as pessoas mais velhas de senhor. O problema está sendo achar alguém mais velho do que eu. Eu trato as pessoas pelo cargo: presidente, deputado, senador, ministro. Mesmo quando já não o são. Mas eu me recuso a chamar médicos e advogados de doutor. Acho errado. É a aceitação da existência de casta social.

Em seguida, terminei minha fala e ouvi Mauro Cezar Pereira e Vessoni, que fizeram ótimas apresentações, com dados comprovando que a tese da torcida única não termina com a violência.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.