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Menon

Everybody loves Gabriel Jesus

Menon

01/07/2016 10h56

O texto é sobre Gabriel Jesus, mas antes vou fazer uma ligação com um cara muito bacana que conheci na profissão.

Jairzinho, Leão, Tuca e Edu (site terceiro tempo}

Jairzinho, Leão, Tuca e Edu (site terceiro tempo}

Em 1997 e 1998 eu convivi diariamente com Tuca Pereira de Queiroz. Ele, pelo Estadão e eu, pelo Lance!, cobríamos o São Paulo Futebol Clube. Tuca era um sujeito muito afável, que passava longe da guerra por notícias. Tinha seus furos, mas não era obsessivo, não deixava que nada atrapalhasse um bom relacionamento. Quando o São Paulo apresentou Aristizabal eu não estava lá – não me recordo o motivo – e ele me passou sua matéria por fax (olha, só…), pedindo apenas que eu fizesse modificações para que nossas chefias não percebessem.

Ele estava de volta ao jornalismo após um tempo afastado, quando cuidou de sua fazendo no Mato Grosso. Era de outra época. Havia trabalhado nos anos 70, coberto a seleção e se ressentia de algumas mudanças. "A gente saía para tomar cerveja e jantar com os jogadores, agora é tudo diferente, ninguém fala com ninguém", dizia. Era muito amigo de Leão e de Pelé. Me contou que emprestava seu carro para Pelé sair com algumas mulheres e manter o anonimato.

Sempre falei para o Tuca que sentia uma certa inveja dele. Deve ser ótimo para um jornalista ver um craque nascer. O setorista de Santos que viu Pelé treinar pela primeira vez, fazer um gol pela primeira vez, ser assediado pela primeira vez… Ver o nascimento de um ídolo. Sempre imagino uma cena assim: um jovem repórter argentino chega à redação torcendo para ser sua primeira vez no treino do River ou Boca. E fica irritado ao saber que vai ao Argentinos Juniors. Quando chega lá, nem percebe que aquele garoto pequeno, cabeçudo e marrento está fazendo maravilhas no treino. O primeiro treino de Maradona.

Com a globalização e o avanço dos meios de comunicação podemos ver tudo de Messi a qualquer momento. Mas não é igual. Pela distância, ele é mais um personagem de reality show. Seu choro após a eliminação contra o Chile emocionou o mundo. Mas nenhum repórter – acredito – teve a proximidade de lhe dizer: "força, amigo".

No Brasil, os setoristas do Santos puderam ver o nascimento futebolístico de Neymar. Aliás, ele já havia sido anunciado há anos pelo profeta Wagner Ribeiro. O mesmo que dizia que Lulinha tinha 280 gols na base do Corinthians e que Thiago Luiz seria o novo Messi. Neymar, porém, foi logo embora. E os tempos de hoje, como já dizia o Tuca, não permitem proximidade. Para deixar claro, eu discordava do Tuquinha. Nunca quis ter amizade de jogador. Nenhum preconceito. Apenas acho que afeta o distanciamento e atrapalha o trabalho.

Tudo isso para chegarmos a Gabriel Jesus. Acredito que estamos vivenciando o fato tão raro. Estamos acompanhando o nascimento de um jogador inesquecível. Não o estou comparando com Maradona, Messi ou Pelé, pelo amor de Deus. Nem a Zico, Kaká, Neymar… Não o comparo a ninguém. Mas vejo em Gabriel um potencial enorme para ser ídolo.

Um ídolo unânime. Todo mundo torce por Gabriel. Há uma percepção que ele é do bem. Quando ele pega a bola, os palmeirenses vibram antecipadamente pelo gol que está vindo. Os rivais torcem as mãos de preocupação. E quando o gol sai, o grito é igual: "Caralho, o moleque fez de novo".

Gabriel finaliza bem, é rápido, é técnico… Mas outros também são.  Em campo, não é um santo. Briga bastante, já foi expulso. E abusa do cai cai.

De onde vem, então, esta torcida para que ele vença na vida? Minha opinião: ele transmite sinceridade e espontaneidade. É autêntico. Não tem a máscara do Gabigol. E não tem a ostentação de Neymar. Gabriel não faz uma jogada para humilhar. Faz porque é a jogada certa.

Vai durar pouco, todos sabemos.

Mas está sendo bacana ver o nascimento de um ídolo inesquecível para os palmeirenses, sob o olhar condescendente dos rivais.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.