Topo

Menon

Cueva, Gaviões e rua Palestra Itália, calem a boca. A eugenização caminha

Menon

18/07/2016 15h15

calabocaChristian Cueva comemora gols com as mãos na orelha, com sempre fez Juan Román Riquelme. Um pedido de aplausos. Como vivemos no Brasil a ditadura da torcida única, implantada por promotores midiáticos, fica evidente que, ao pedir aplausos à torcida rival, estava ironizando os corintianos. Levou amarelo.

Temos agora o caso do entorno do Palmeiras. Paulo Castilho disse que deseja impedir a aglomeração na rua Palestra Itália em dia de jogos. Quer proibir o funcionamento dos bares. Na verdade, estará proibindo uma manifestação de amor ao futebol. Em nome de quê? Moradores do bairro reclamam do barulho. Moradores que vieram ao bairro muito depois do antigo Parque Antártica. Uma pergunta: se os sem-teto reclamassem de barulho, os promotores fariam algo? Logico que não. Estão a serviços dos bem nascidos.

São faces da mesma moeda. Há uma escalada rumo à domesticação do futebol. Querem a higienização da festa popular. Querem todo mundo em casa, no sofá, pagando para ver. Pagando para ela, a poderosa RGGT. Faixas com temas políticos (majoritariamente portadas pelos Gaviões) são proibidas nos estádios. Não se pode falar mal de políticos. E nem da RGGT. Ela paga e quer ser bem tratada.

Qual o problema em Cueva ironizar os corintianos? Estamos falando de futebol, o esporte que leva pessoas ao exercício da paixão da maneira mais alucinada. Natais são estragados por discussões sobre impedimento. Discussões sobre impeachment são adiadas para se falar se o acréscimo dado em um jogo foi suficiente.

Por que uma torcida não pode ser ironizada? Que entidade é essa, acima de todo o mal e de todo o bem? Foi uma forma de deboche, disse o tal Bassols sobre o caso.

Foi triste o caso. Foi um passo a mais rumo à eugenização do futebol brasileiro. Foi um passo a mais contra a paixão. Foi uma imbecilidade a mais. O campo de futebol não é uma sala do ensino básico em que um aluno de sete anos reclama para a professora porque o colega lhe mostrou a língua.

Se um jogador leva cartão amarelo porque debochou da torcida rival, então deveríamos esperar um nível de civilidade que não existe. Em nenhum lugar do mundo. Que tal exigirmos que torcedores se levantem e batam palmas para o gol adversário? Teatro.

Teatro é o que se vive no momento. Marginais infiltrados em torcidas organizadas batem e matam. O Estado mostra-se incompetente e falido. Não tem respostas. E vai usando e abusando de medidas paliativas: torcida única, proibição de venda de cerveja, nada de batuque e sinalizador. Adeus, pernil.

E a CBF, entidade dirigida por condenados há mais de 40 anos, vai pelo mesmo caminho. Já que a arbitragem é ruim, penalizemos o jogador. Debochou? Amarelo. Logo, daremos vermelho a Messi ou Pepe, que vomitaram em campo.

Os promotores midiáticos e a CBF corrupta estão dando um tiro no pé. Proíbem a paixão. Não dão segurança ao povo. Vão acabar com o futebol.

E então?

Para quem os promotores midiáticos darão entrevistas?

De onde virá o sustento dos presidentes da CBF? Se matarem a galinha dos ovos de ouro, nós que gostamos de futebol, iremos às ruas, às favelas, aos condomínios, aos clubes, às ligas clandestinas, viajaremos para o Afeganistão, se preciso, para ver futebol. E eles? Vão viver como, sem mídia e gana?

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.