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Príncipe do Butão e a arqueira paraplégica deixaram meu dia feliz

Menon

09/08/2016 21h00

principe-do-butao-tira-foto-com-voluntarios-da-rio-2016-1470776413619_v2_900x506HRH Jigyel Ugyen Wangchuck é um cara legal. Nem parece príncipe. Do Butão, o país da felicidade. Eu o conheci no torneio de tiro ao arco, quando ele apareceu para cumprimentar uns arqueiros de seu país. Foi bom falar com ele. Estava meio injuriado. Vou contar para vocês. No dia anterior, pela manhã, eu havia resolvido ir a pé até a Arena de Vôlei. Um quilômetro e meio. Fácil para vocês. Para mim, valeu uma fisgada na panturrilha, que tornou meu caminhar um pouco complicado.

A noite, vim de Deodoro, onde vi o basquete feminino perder. Voltei para o centro de imprensa e dali para Copacabana, onde estou hospedado. Foram duas horas de viagem. Desci no ponto errado. Torci o pé direito e a fisgada na panturrilha esquerda aumentou. Os táxis não aceitam cartão, então, como um coxo cambaleante, andei mais um quilômetro.

Hoje, fui para o tiro ao arco, como já disse. O mau humor tomou conta deste corpinho aqui. Discuti com os voluntários e com uma  colombiana que sentou no meu lugar. Tudo culpa deles, eu sou do bem. Então, vamos ao trabalho.

Olhei pela televisão e lá estava uma iraniana paraplégica competindo. Zena é seu nome. Eu a tinha visto treinando outro dia, mas pensei que fosse paraolímpica. Na verdade, ela foi campeã paraolímpica em Londres e, no Brasil, vai participar das duas competições. Perdeu para uma russa de olho puxado, a Stepanova, e chorou muito. Prometeu que vai vencer as Paralimpíadas. Aí, eu comecei a me sentir culpado. Como posso ser mala assim, se a moça ali estava sendo um ser humano tão bom.

Fiz minha matéria com ela e já estava me preparando para pegar uma carona com o amigo Gudrian, da Fox. Então, vi um homem e uma mulher, com o uniforme do Butão. Uyoum ao lado do outro, esperavam alguém. Falei uma coisa qualquer e estava indo. Então, chegou um sujeito com uma roupa esquisita e foi falar com eles. Perguntei a um segurança quem era e ele disse que era o Príncipe do Butão. Fiquei olhando e falei com o príncipe, que estava de costas. "Please, can I take a photo all you?"

O príncipe abandonou a turma e veio falar comigo.

Eu disse que meu inglês era ruim.

Ele falou que era bom e agradável.

Eu perguntei se ele tinha 20 anos.

Ele faltou que era 32. E eu disse que não parecia.

Mentiras feitas, todo mundo feliz, tentei conversar.

Ele pediu para que eu tirasse foto apenas dos arqueiros, que eles eram importantes. Falou que o Butão é fraco em esportes mas é forte em tiro ao arco e que ele deseja que em 2020 a equipe consiga bons resultados.

Aí, eu já era amigo do Jigyel. Pedi mais uma vez para ele tirar uma foto com os arqueiros. Ele aceitou, mas perguntou se podia convidar um voluntário. Deixei.

Depois, perguntei do Brasil e se ele gostaria de voltar. Disse que sim. Expliquei o que era o sambódromo e se ele gostaria de desfilar. Ele riu e falou que não. "Melhor, não", poderia ser a tradução.

Ficou uma matéria bacana e eu já estava outra pessoa. O Príncipe havia transmitido felicidade para mim?

Peguei carona com o Gudrian até uma estação do BRT e fui para o Parque Olímpico. Peguei o Madureira. Só consegui entrar no terceiro ônibus. Lá dentro, sufocado, sem me mexer, com a mão no bolso para proteger documento, pensava no Príncipe. Se o Butão é feliz, eu também posso ser. Aliás, eu já estou tentando. Todo dia falo pelo menos cinco "bom dia" para ir treinado. Será que tem BRT no Butão? Acho que não, talvez isso seja um dos motivos para tanta felicidade.

Três estações depois, desci. Para chegar ao Parque Olímpico, foi difícil. Entrei e as informações eram muito difíceis. Então, sempre pensando em felicidade, conheci o terceiro motivo para ser feliz. Depois de Zena e Jigyel, o Valdemar, um voluntário que mostrou o caminho correto. E, apiedado de mim, chamou um carrinho daqueles de golfe. O condutor pegou mais duas veteranas que estavam saindo – extasiadas – da ginástica olímpica e me levou.

Não era ali, mas tudo bem. Andei mais e então a verdadeira felicidade chegou. De forma simples. Um retângulo de metal, verde escrito Media entrance, arena carioca 2 e 3. Eu ia na um, mas tudo bem. Mais um pouco, 28 degraus, mais doze e….estou aqui.

Foram duas boas matérias. Estou feliz. Que todo dia seja assim. É o que eu gosto de fazer.

Olha a matéria aí

http://olimpiadas.uol.com.br/noticias/redacao/2016/08/09/eliminado-promessa-marcus-vinicius-mira-no-futuro-vale-apostar-na-gente.htm

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.