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Discussão sobre vaia é um luxo no Brasil de hoje

Menon

17/08/2016 18h10

smithO assunto do momento no país em que a direita, fiel à sua gênese e história, assumirá o poder sem ter voto, é a falta de espírito olímpico do brasileiro.

Um luxo, a discussão. Não há nada mais importante na Terra de Vera Cruz em 2016.

Mas o que é o tal espírito olímpico? Qual é sua definição? Há alguma regra escrita. Só conheço uma: "o importante é competir", do barão Pierre de Coubertin.

Me desculpem, mas não gosto de barão. Barão é uma pessoa que é mais que outras pessoas e que é menos que outras pessoas. A escala não é baseada em dinheiro, inteligência, gestos educados, contribuição à paz, à ciência, nada… É o berço. É a árvore genealógica.

Feita a digressão, a obra de Pierre de Coubertin é fantástica. Maravilhosa. Um dos grandes homens da humanidade. E um sonhador, porque se o importante fosse competir, ninguém competiria.

Eu entendo o espírito olímpico como competir limpamente. Vencer com justiça. Com lhaneza. Dentro desta definição, vejo muita coisa pior do que o comportamento do brasileiro em quadra.

O doping. Um crime que deve ser combatido com todas as forças.

A naturalização comprada.

O Brasil, por exemplo, na insana busca por um lugar entre os dez primeiros, montou um time de polo aquático que tem cubano, croata, brasileiro que já defendeu outro país. Uma torre de Babel. Para ser eliminado como sempre. Uma vitória desta seleção significaria que o polo aquático do Brasil é bom.

A Espanha ganhou medalha de prata nos 110m c/barreiras. Seu corredor é o cubano Orlando Ortega, sexto colocado em Londres. Sua vitória representa que a Espanha tem uma boa escola nessa prova? Ou é Cuba que tem, com o ouro em 2000 de Anier Garcia e o ouro e 2008 de Dairon Robles.

É o dinheiro corrompendo resultados.

Não sou xenófobo, não sou contra o ser humano se naturalizar. No esporte, isso tem de ser natural. Não é correto a contratação de atletas. O Catar tem 12 estrangeiros no handebol. Não é correto.

O terceiro ponto gravíssimo é a entrega de resultados. Equipes perdem por querer para escapar de um chaveamento ruim. O Brasil já entrou nessa, com o vôlei de Bernardinho.

Pobre barão. Se o importante é competir, ele morreria em ver alguém perder por querer.

Cheguemos então à questão das vaias. O mundo está no Rio. E cada país tem um jeito de torcer. Não há um decálogo que defina como. O que pode e o que não pode.

Acho lamentável a vaia a um medalhista olímpico no pódio. A torcida brasileira que fez a baixaria perdeu uma chance de mostrar grandeza. Tudo já passou e te perdoamos. Preferiram cultuar o ódio, a intolerância, a agressividade. É o mesmo tipo de gente que manda uma mulher tomar caju.

Mas, antes do pódio, na hora da disputa, cada um ajuda seu time como quiser, como puder. Não se pode vaiar Pau Gasol na linha do lance livre? O cara é um dos grandes do mundo, seu time vence por um ponto e ele erra dois lances livres no final do jogo? Permite o contra-ataque e a derrota? E a culpa é da vaia? Ah, se fosse no futebol.

E aí chegamos a outro ponto. Os defensores do modo único de torcer – imagino como seria, talvez estalando o fura-bolo no pai de todos – permitem, aceitam, que se grite no futebol. Para eles, futebol é outra coisa, outro departamento, outro esporte. Nem deveria estar na Olimpíada.

É muita petulância, muita arrogância. Eu determino como se deve torcer e te perdoo se você não seguir minhas regras, mas só no futebol, tudo bem?

E por que o modo de torcer deve ser determinado pela cultura alheia e não a nossa? Isso me parece jesuíta chegando no Brasil e ensinando índio a rezar e a vestir roupa. Deus, pode. Tupã, nunca.

Me desculpem os entendidos em espírito olímpico, em forma correta de torcer, mas podem ir indo para a sua ginástica de trampolim que eu fico aqui no meu futebol barulhento.

Ah, sabe quem mais fraudou o espírito olímpico. Tommie Smith e John Carlos, que denunciaram o racismo nos EUA. E Peter Norman, o australiano branco que os apoiou. Pagaram pela ousadia. Mas o gesto de revolta fez tanto pela igualdade racial do que o abraço de Lutz Long em Jessie Owens, na fuça de Adolf Hitler. A cujos apoiadores fomos comparados, em notório ato contra o espírito olímpico, pelo francês derrotado por Tiago Braz.

 

 

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.