Divórcio em Itaquera. Roberto Andrade critica o Mito da Fiel. Está errado
Depois de Hollywood, o Brasil. Após o divórcio do midiático e charmoso casal Brad Pitt e Angelina Jolie, vemos uma outra paixão – muito mais quente, mais tórrida e, sem dúvida, infinitamente mais importante – ser questionada. E a dúvida veio através da entrevista de Roberto Andrade, presidente do Corinthians. "As pessoas às vezes vão ao jogo e se manifestam menos. Isso para mim é um abandono. Estamos acostumados a ver uma multidão gritando os 90 minutos. Se o torcedor nos abandona, vai ser pior. Peço encarecidamente que nos apoie, disse dois dias após a derrota contra o Palmeiras, em Itaquera.
Roberto Andrade fez o que causa verdadeiro ódio aos corintianos. Sim, o torcedor rival, o jornalista, o jogador rival, o jogador corintiano podem criticar o time do Corinthians sem problema. Será questionado dentro dos limites futebolísticos. Se ousar questionar a torcida corintiana, terá cruzado uma linha sem volta. Será tratado como um herege e o questionamento será feito dentro dos limites da paixão. Que não tem limites. Lembremos de Fininho e de Cristian. O lateral-esquerdo, vaiado, mostrou o dedo para a torcida corintiana. Nunca mais jogou. Cristian mostrou o dedo para a torcida são-paulina e anos depois, mais cabeludo, mais tatuado e jogando muito menos, recebeu um contrato milionário.
E agora, o presidente do clube vem dizer que a Fiel não está torcendo como deveria? Pede entusiasmo ao bando de loucos? Tem razão? Se tiver, o que explicaria o divórico: 1) uma certa elitização da torcida, após a implantação da política de venda antecipada para sócio torcedor? 2) o abandono do Pacaembu, mais central? 3) o mau momento do clube?
Se a resposta correta for a terceira opção, está questionado de vez o mito da fidelidade. Sim, porque o corintiano tem como companheira fiel a certeza, passada de pai para filho, de que torce pelo povo eleito, pelo time que não tem torcida, pela torcida que tem time e que a união é para sempre, de puro alento, mesmo nos piores momentos. "Nunca vou te abandonar", lembram?
Minha opinião: não vejo o entusiasmo corintiano claudicando. Inclusive, ele se voltou contra o próprio Roberto Andrade no jogo contra o Palmeiras. A torcida se virou para o camarote e o ofendeu repetidamente. Se ele advogar a tese de que a torcida deve se limitar ao jogo, então não conhece seu clube.
O mito da fidelidade incondicional foi posto em xeque pelo presidente do clube. O segundo mito – da importância fundamental da torcida no resultado dos jogos – já estava muito fragilizado. O time foi eliminado em casa pelo Guarani do Paraguai, pelo Nacional de Montevidéu, pelo Palmeiras e agora pelo Botafogo sub-20.
O que fortalece o fato concreto – não é mito e nem suposição – de que é preciso ter bom time para ser campeão. Roberto Andrade permitiu – ou não teve condições de impedir – o desmanche corintiano. Não conseguiu substitutos corretos. O time caiu muito. E ele respondeu de duas formas: 1) mandou o treinador embora. 2) criticou a torcida.
Roberto Andrade faria melhor se assumisse seus erros e sua fragilidade administrativa.
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