Topo

Menon

Chape: a sinfonia verde e o silêncio dos canalhas

Menon

30/11/2016 05h10

condaA paixão pelo futebol se expressa em sons e cores. Cada time tem seu hino e seu uniforme. Hoje, todas as cores estão unidas em uma grande aquarela. Todos os sons se misturaram como em uma obra dodecafônica. Como em uma música de Walter Franco. E toda a paixão mundial do futebol foi amalgamado na cor verde. E na palavra Chapecoense.

A Chape. Quantos suecos, finlandeses, albaneses e somalis estão falando Chape pela primeira vez! Cada um com seu sotaque. Seria tcheipe, seria chapê, chapeen em alemão (uma confusão com chapéu), não importa, o mundo está falando Chape.

O mundo ama a Chapecoense. A Torre Eiffel ficou verde. A Torre Colpatria, em Bogotá, ficou verde. O Guns NRoses fundiu seu símbolo com o da Chape. Marcelo chorou no treino do Real Madrid. Um minuto de silêncio no treino merengue. Um minuto de silêncio no treino culé, um minuto de silêncio no jogo Leeds x Liverpool, um silêncio que entra em nossos corações e que é derrubado totalmente na Arena Condá, lotada por torcedores cantando o hino da Chapee gritando o nome de seus mártires.

Diego Armando Maradona, nosso maluco beleza, se declarou torcedor da Chape. La Academia colocará o escudo verde em seu manto azul e branco. A Academia quer jogar com a camisa da Chape. Dois gigantes verdes. E outro verde, o Atlético Nacional, fica na pole position de maior clube do mundo ao pedir que a Conmebol declara a Chape campeã da Sulamericana. O Libertad, do Paraguai, oferece seus jogadores, o Benfica oferece seus jogadores e dizem, não consegui confirmar, que Barça e Real doarão a renda do clássico para a Chape.

Os clubes brasileiros se unem para ceder jogadores. E exigem três anos de carência para a reconstrução do coirmão. A Portuguesa, em péssima situação, quer ajudar. O basquete de Franca passou um vídeo da Chape antes de derrotar o Caxias. Jornalistas trabalhamos com olhos marejados, com olhos secos que se transformaram, em casa, após o maldito dever cumprido, em um jato de lágrimas represadas. Choramos a Chape. E como choramos e choraremos os 21 companheiros que foram cobrir a final que não houve.

A Liga de Marte adiou os seus jogos. Em Urano, todo mundo é chape. Em Mercúrio, os jogadores, todos vermelhos, usarão verde, como verde ficarão por um mês todos os anéis de Saturno.

Os incas venusianos e os seres abissais declararam fim à guerra contra National Kid. Frajola, Piu Piu, Tom e Jerry resolveram jantar juntos e não uns aos outros. Sargento Garcia e Zorro estão tomando um banho juntos, Penépole Charmosa e Dick Vigarista firmaram a mesma paz estabelecida entre Mickey e João Bafodeonça. Luciano Huck parece que não fará uma camiseta homenageando a Chape para encher ainda mais seu depósito de dinheiro. Tão grande como o do Tio Patinhas, que também assinou uma trégua com os Metralhas.

Somos, seres humanos reais ou imaginários, todos Chape. A tragédia nos uniu, mostrou que somos melhores do que imaginávamos. Por poucos dias, eu sei, mas já é um milagre chapliniano, ops, chapeniano.

Falta você, CBF, inútil, vagabunda, insensível e miserável.

Faça alguma coisa.

Seu silêncio não é nada inocente.

É canalha.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.