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Michael Beale deve ser analisado sem xenofobia e sem colonialismo

Menon

05/12/2016 10h46

bealeEm 1957, o húngaro Bélla Guttman, andarilho do futebol, foi campeão paulista dirigindo o São Paulo. Há quem diga que suas ideias influenciaram Vicente Feola, que trabalhou junto com ele, na direção da seleção brasileira campeã no mundial do ano seguinte.

O seu sucesso como o do argentino Filpo Nunez no Palmeiras, do uruguaio Ondino Vieira no futebol carioca dos anos 40 deveriam ser um salvo conduto para o trabalho de treinadores estrangeiros no Brasil, mesmo quando outros como Gareca, Aguirre, Bauza e Osorio não tenham feito trabalhos espetaculares.

O profissional estrangeiro dever ser tratado assim: um profissional do futebol em busca de sucesso. O fato de haver nascido em outro país não significa certeza de sucesso. Ou de fracasso. É lógico que é muito aceitável que se desconfie do trabalho de um talilandês, o que não é  caso de Michael Beale, o auxiliar de Rogério Ceni em sua primeira experiência como treinador profissional. Também não foi amador.

Não se deve tratar Beale com xenofobia: o que um inglês pode ensinar, o cara nem dirigiu um time profissional, se fosse bom estava no time principal, quem é que vai entender etc… E nem com doses de colonialismo: que ótimo, um europeu para nos ensinar, agora sim o Brasil está no primeiro mundo, o São Paulo deveria pagar um curso de inglês para seus jogadores etc.

O importante é esperar o trabalho começar e ver os resultados. Beale é um estudioso do futebol. Escreveu vários livros com exercícios específicos, o que demonstra que os coletivos terão presença diminuta no trabalho a ser iniciado.

O exercício que ilustra o post é o primeiro de seu livro "64 exercícios de futebol em campo reduzido. Treine seu time ao estilo holandês". É realizado em um espaço de 30 x 20 jardas (mínimo) a 40 x 25 jardas (máximo). Como uma jarda tem 91 centímetros, teríamos 27m x 18m no mínimo e 36m x 22m no máximo.

São dois times com quatro jogadores e um goleiro. Não há impedimento. A intenção é marcar a saída de bola, pressionando bastante. Um variação do exercício não conta com goleiros. São quatro jogadores de cada lado, mas o que estive mais próximo do gol pode se transformar em goleiro. Há muitos outros exercícios.

48Possessão x pressão é o nome de um deles, do mesmo livro. O campo destinado ao trabalho tem as mesmas dimensões máximas e mínimas daquele exposto anteriormente. São dois times com quatro jogadores e quatro goleiros. O time da posse de bola fica trocando passes, podendo usar os seus goleiros. Ao apito do treinador, o time da pressão entra em campo para tomar a bola e fazer o gol. Tem 30 segundos para isso. Se não conseguir, é gol do time da posse. Feito o gol, há uma rotação de funções. O time da pressão passa a ser o time da posse de bola e vice versa.

Um exercício curioso é o Four Goal Game. São dois times com quatro jogadores. Não há goleiros. São quato mini gols. Se a bola sair, um ajudante coloca outra imediatamente em campo. Os dois times devem atacar os dois gols e defender os dois gols, ao mesmo tempo.

Passers x Defenders é a pressão em sua essência. Em um espaço reduzido de 10m x 10m, quatro jogadores trocam passes contra um adversário. O famoso "bobinho". Quando o bobinho toca na bola, impedindo a troca de passes, ele sai correndo em direção ao outro gol. Lá, sem goleiro, recebe um passe do treinador e tenta fazer o gol. O "gol" do time da manutenção da bola é conseguindo após dez passes seguidos.

Há outros livros de Beale, com exercícios de defesa, de finalização etc.

Ninguém sabe se tudo dará certo. Para que dê é necessário reforçar o elenco. Mas a certeza é de o futebol terá uma novidade a partir de janeiro, com Ceni e Beale. Uma novidade a ser analisada sem preconceito, sem xenofobia e também sem servilismo.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.