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Corinthians não usará verde. E daí?

Menon

07/12/2016 12h44

O Corinthians resolveu não usar verde em seu uniforme contra o Cruzeiro na despedida do Brasileiro. Seria uma homenagem à Chapecoense. Foi uma decisão em respeito à uma tradição secular de estar sempre do lado oposto do Palmeiras. Uma tradição que se criou no dia a dia e que não está escrita em lugar nenhum. Não existe a proibição estatutária do uso do verde. Perdeu uma chance de timaochaperompimento, de fazer História. O 11 de dezembro seria lembrado eternamente como o dia em que o Corinthians e os corintianos se superaram para homenagear um clube.

A opção pela tradição não está errada. Há muitas formas de se homenagear alguém, de se chorar os mortos. Errado e canalha foi a diretoria (a diretoria e não o clube) do  Palmeiras há meio século quando não permitiu que o Corinthians inscrevesse dois jogadores em substituição a Lidu e Eduardo, mortos em um acidente automobilístico.

O importante agora é passar para o próximo estágio. Vamos esperar o domingo, que trará um grande pico de homenagens. Elas virão de todo o país, como já vieram de todo o mundo. Homenagens, homenagens, uma mais bela que a outra. Todas cheias de emoção e de amor ao futebol e ao ser humano. Mas, e o dinheiro?

A situação da Chape é contornável. O título da sul-americana lhe permitirá jogar a Libertadores, a Recopa e a Suruga Cup. Haverá dinheiro extra. A RGGT poderia aumentar um pouco a cota da Chape. Ou, então, repassar aos catarinenses todo o dinheiro arrecadado em patrocínio durante a ultima rodada do Brasileiro. A CBF precisa se virar e dar dinheiro. Dar, não, devolver. Todo o dinheiro da CBF vem dos clubes, então, devolve aí, Marco Polo. O número de sócios da Chape está crescendo. O Maracanã poderia abrir suas portas para ver Chape x Atlético Nacional, irmãos nascidos da dor. Há jogadores se oferecendo. Os clubes podem ceder atletas. Há muitas opções.

O que preocupa é a situação das famílias dos jogadores. É preciso fazer algo urgentemente. Leco, presidente do São Paulo, falou em se fazer um fundo destinado à Chapecoense, que repassaria o dinheiro às famílias. Mas tudo está embrionário. E qual deve ser a extensão da ajuda? Até o final do contrato? Muito mais do que isso. A sociedade futebolística precisa cuidar dos filhos dos jogadores até o término dos estudos. O colegial, no mínimo. Caramelo pagava a faculdade do irmão. Um custo que o São Paulo tem obrigação moral de assumir.

A Chapecoense tem muito mais chances de se reerguer do que as famílias dos jogadores que morreram. Basta lembrar que terá três anos de resguardo, sem chance de cair. As mulheres dos jogadores terão três meses de salário a receber? Possivelmente, sim. Possivelmente muito mais. Mas nada está definido.

A Chapecoense não vai morrer. Danilo, Gimenez, Cleber Santana, Denner, Thiaguinho, Bruno Rangel, Kempes e  outros, já morreram. É deles que precisamos cuidar. Uma missão muito mais importante do que discutir se o Corinthians deveria usar verde ou não.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.