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Arbitragem eletrônica é a ditadura no futebol. Corotinho garante

Menon

19/12/2016 10h36

abaixo_a_ditadura1Sou a favor da arbitragem eletrônica apenas para se definir se a bola entrou ou não. Sou a favor porque ela estabelece uma verdade absoluta. Acaba com a discussão. Nos outros casos, não. Vejamos:

1) Pênaltis – A cada fim de rodada, a televisão mostra pênaltis e pênaltis polêmicos. Polêmicos, vejam bem, na televisão, com muitas câmaras, horas após o jogo. O lance é visto e revisto e continua polêmico. Foi jogo de ombro ou empurrão? O atacante desmoronou antes do toque? Foi simulação? E os famosos pênaltis bola na mão ou mão na bola? O zagueiro aumentou a amplitude do corpo? O atacante chutou a bola na mão do zagueiro? O mesmo lance é pênalti para um árbitro e não é para outro. Pior, ainda. O mesmo lance é pênalti hoje e não é pênalti amanhã, para o mesmo árbitro. Qual é o critério adotado pelo árbitro eletrônico? Diferente ou igual o critério do árbitro que está em campo? É lógico, e reconheço, que o árbitro eletrônico pode flagrar uma porrada dentro da área, que o juiz não deu. Mas, então, valeria apenas para esses casos?

2) Impedimento – O atacante entra em impedimento, faz o gol,  e o juiz de campo não vê. O árbitro eletrônico pega o lance. O gol é anulado. Está feita a justiça? Sim. Mas, e se o caso for o contrário? O atacante está em posição legal. O bandeirinha e o árbitro anulam a jogada. Ele faz o gol. Leva um amarelo. Então, o árbitro eletrônico avisa que não havia impedimento. O que se faz? O gol anulado passa a valer? O cartão amarelo (ou vermelho se o atacante já tivesse um amarelo) é anulado? Qual a solução? O árbitro eletrônico só vale para um tipo de impedimento?

3) Agressão – Sou a favor desde que o agressor seja pilhado durante o jogo. O juiz não viu, o árbitro eletrônico avisa e o agressor é expulso. Depois do jogo terminado, nunca. O jogo de futebol tem 90 minutos, não pode continuar por dias e dias.

4) Desafio – O futebol é único, é o maior de todos os esportes, tem seu ritmo corrido. Não é como vôlei, que para a cada ponto. Quando temos jogos as 11 horas, com sol escaldante, é permitido apenas uma paralisação por tempo. Quantos desafios teríamos? Desafio se tornaria a cera institucionalizada. Usada para parar o jogo, para acalmar o rival.

Mas eu sou contra o árbitro eletrônico em homenagem ao Corotinho, velho amigo de Aguaí. A gente se encontrava sempre nas férias, vindos das faculdades. E as noites eram agradáveis. A gente ficava aprendendo futebol com o Passarinho, que se transformou no advogado Dirceu Costa, ficava contando causos, bebendo cerveja, fazendo serenata sob o comando de Jorge Maringá, e…derrubávamos a Ditadura. Sim, a Ditadura foi derrubada muitas vezes por nós todos.

Corotinho era o mais exaltado. Ele pregava a resistência a tudo que cheirasse ditadura. E, já naquele tempo, a RGT era topo de lista. Foi, então que se instituiu o tira-teima nas transmissões globais. Corotinho ficou irritadíssimo. Para ele, aquilo era a implantação da ditadura eletrônica sobre a grande paixão nacional. Era o Big Brother de George Orwell institucionalizado. "Vocês estão sendo manipulados. O que a Globo quer é acabar com a conversa de boteco, impedir que amigos se reúnam e fiquem discutindo se foi pênalti ou não, se foi impedimento ou não. Eles querem o povo calado, querem que todos sigam o que eles determinam. Eles querem determinar o que é certo ou errado, querem mandar em tudo".

E, sem perder o fôlego, Corotinho emendou a solução. Sair da teoria à prática. Um amigo tinha uma lata de spray fomos pichar muro. A ideia escrever Abaixo o Tira Teima…

Dito e feito. Dois dos nossos vigiavam e Corotinho mandou ver. Tudo estava indo bem até o 'Abaixo o Tira…" Não deu tempo de escrever o Teima. Chegou Flávio Três Dedos (por causa do jeito de bater na bola), da PM.

"Porra, Corotinho, sou teu amigo de infância e você vem pichar muro. Abaixo o tira? É uma profissão igual a outra qualquer, você escolheu a sua e eu escolhi a minha. To chateado com você"..

Só em Aguaí mesmo para um policial ficar "chateado" com um estudante. Bem, tudo mudou. Não é mais assim.

Corotinho pediu desculpas e explicou o assunto. Flavio Três Dedos ouviu tudo com a atenção. "Corotinho, essa merda de tira teima fudeu meu time na semana passada. Olha, acaba essa merda de pichação aí e some. Amanhã é minha folga e a gente conversa".

E conversamos no mesmo bar, sobre as mesmas coisas, acrescentando a elas a facilidade com que Flávio Três Dedos batia na bola, fazendo curvas e curvas no Estádio Municipal dr. Leonardo Guaranha. Lá, onde eu e Corotinho nunca pisamos. A gente era bom de papo e não de bola.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.