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Michel Bastos no Palmeiras. Presente das milícias tricolores

Menon

31/12/2016 08h50

Michel Bastos tem 33 anos. Tem bom chute e bom cruzamento. Cobra faltas. Tem experiência internacional. É um jogador com mercado ainda no futebol brasileiro, não mais na Europa. Tem bola para time grande. E trocou o São Paulo pelo Palmeiras. Uma saída determinada pela intransigência e violência de pessoas que se acham acima do clube. Os torcedores "normais" de pouca presença nos estádios. E os marginais, verdadeiras milícias fascistas que invadem um local de treinamento, roubam bolas, camisas e agridem jogadores.

Em 2014, quando chegou, Michel Bastos foi muito bem. Jogou mais do que Kaká, apontado como o responsável pelo vice campeonato brasileiro. Em 2015, jogou bem. Em 2016, o São Paulo teve bons momentos na Libertadores com presença significativa do jogador, que fez gols decisivos.

Mas houve um momento em que o futebol de Bastos caiu. Normal, afinal não é um gênio. Caiu. Bastante. E a torcida começou a vaia-lo. Se o colesterol de Michel subia, tome vaia. Se a pressão caísse, tome vaia. Se ele dançasse valsa, vaia. Se votasse no Aécio, Dilma, Marina, Marine Le Pen ou Amanda Nunes, vaia nele.

Então, um dia, após um gol, Michel Bastos cometeu o Sacrilégio. Mandou a torcida calar a boca. Rompeu todos os limites. Sim, porque a Torcida, essa entidade suprema, acima da lei e de tudo o mais, permite tudo: gol perdido, passe errado, frango de goleiro, só não permite ser contestada.

A plebe ignara, o ajuntamento de cordeiros que se tornam lobos vorazes, exigiu a saída de Michel.

E Michel errou. Porque, me desculpem, quem ganha o que ele ganha, não pode se abater. Tem o direito de mandar a torcida calar a boca, mas tem a obrigação de jogar com o mesmo nível de entrega e de qualidade técnica.

Não conseguiu. Perdeu a razão.

E readquiriu a razão quando os bandidos pediram autorização em seus postos de trabalho, conseguiram uma folga e foram ao local de treinamento dos jogadores e agrediram Michel Bastos, Wesley e Carlinhos. Se não houvesse segurança, talvez fossem linchados.

Ora, quem é agredido em um local de trabalho, tem toda razão em não querer trabalhar mais para aquele empregador que não lhe garante condição de trabalhar. Se, até então, Michel Bastos era um manhoso, passou a ser um agredido. Passou a ter mercado novamente. Os adversários não gostariam de ter um fingido no elenco. Mas um agredido, sim. Exceção é o São Paulo de Carlos Miguel Aidar que abriu espaço para Wesley, que teve comportamento vergonhoso no Palmeiras.

Michel Bastos, de 21 gols em 123 jogos, é mais uma vítima de parte da torcida tricolor. Como Maicon, capitão do Grêmio na conquista da Copa do Brasil.

É a vitória das milícias.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.