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Cardeais sem grandeza estão matando o São Paulo

Menon

08/02/2017 13h01

Em outubro de 2015, Carlos Miguel Aidar renunciou à presidência do São Paulo. Deixou o clube no fundo do poço. Um poço de lama.

Armand Jean du Plessis, Cardeal-Duque de Richelieu e de Fronsac.

Armand Jean du Plessis, Cardeal-Duque de Richelieu e de Fronsac.

Seria natural que, diante da gravidade da situação, todos os conselheiros e dirigentes se unissem para levar o clube a uma situação de calma e tranquilidade até a próxima eleição.

Nada disso aconteceu. O que se viu nos últimos dois anos foi uma sucessão de brigas e mais brigas. Dez ou quinze pessoas se unem em um grupo a que, pomposamente, chamam de partido. E toma lá. E dá cá. Tudo em troca de uma carteirinha de sub sub diretor de piscinas, ou de badminton ou de festa junina. São cardeais ou aspirantes a cardeais brigando na lama deixada por Aidar.

A primeira chance de união foi perdida na eleição de Leco. Todos poderiam estar juntos na direção do clube até um porto seguro. Mas a oposição lançou candidato. Um direito, é lógico, como também seria um direito caminhar junto. E o candidato foi Newton do Chapéu, figura folclórica e que nada acrescenta. Seu grande currículo é ser genro de Fernando Casal de Rey, o presidente que enfrentou com dignidade e galhardia as dificuldades estruturais do Morumbi.

Um pequeno fato mostra quais são as prioridades do homem do chapéu. Ele foi candidato a deputado. Teve menos de 3 mil votos. E se apresenta, em sua página, como suplente de deputado. Ora, ele só assumiria uma vaga se 50 candidatos mais votados do que ele renunciassem. Percebem a importância de ter uma carteirinha, de querer ser alguém com poder? Imagine o mesmo no clube. Quantos não matariam por uma carteirinha de diretor adjunto da sauna nos dias nublados?

O São Paulo sempre foi um clube fechado, com eleições sendo decididas entre conselheiros, nunca mais de 300. Um sistema que acho errado, hoje os clubes precisam se abrir para os sócios, sócios-torcedores e até para os torcedores, mas é inegável que funcionou. O sistema de cardeais levou o clube a ter seu maravilhoso estádio, a ter títulos mundiais e a ter contratações que mudaram o futebol brasileiro. Basta citar Leônidas da Silva, Gérson e Pedro Rocha. Foi pioneiro na preparação física, na construção de centros de treinamentos  e nas categorias de base.

Foi gigante, apesar do sistema. Por causa dos dirigentes. Hoje, o sistema continua, mas os dirigentes estão abaixo, muito abaixo. A decadência da família Aidar (estou falando de sua presença no clube) mostra isso.

Como os cardeais tricolores estão se comportando nesse período de tempestade? Não ouvem Paulinho da Viola, que recomenda levar o barco devagar em rumo a um porto seguro. Comportam-se como personagens de Game of Thrones.

Carlos Augusto Barros e Silva mostrou-se muito vacilante nos momentos em que o futebol precisou de ação. Na fase final da Libertadores-16, trouxe Ytalo, repetindo Juvenal, que, em 2013, trouxe Silvinho. No Brasileiro, após perder Ganso, Calleri e Kardec, trouxe Robson e Jean Carlos. É um homem íntegro, que evitou falcatruas e nunca se envolveu em coisa parecida

Fora do campo, comandou um processo grandioso que trouxe um novo estatuto ao clube. Estatuto que aponta para a profissionalização e que tira o poder imperial dos presidentes.

Bastou o projeto ser aprovado, passou por uma tentativa de golpe. Os opositores queriam que ele passasse a governar sob as regras do novo estatuto, que entrará em vigor a partir de abril. Ou seja, ele foi eleito para governar sob regras definidas e querem que passe a governar sob regras que só estarão em vigor a partir do novo mandato. Golpezinho chinfrim.

A tese foi defendida pelo empresário Abílio Diniz, que teve muitas de suas boas ideias aprovadas para o novo estatuto. Mas Abílio tem pressa. Ele quer o poder no São Paulo, mesmo não se candidatando a conselheiro. Prefere atuar fora, pagando o trabalho de duas consultorias que determinaram muitos problemas no clube. Abílio quer mandar já. Já.

O que o move é um ódio visceral a Leco. Ele quer eliminar o atual presidente. Ódio pessoal, mas eliminação política, esclareço. Em condições normais de temperatura e pressão, nem seria necessário esclarecer. Abílio, que esteve com Leco contra Aidar, rompeu com Leco quando Leco afastou Milton Cruz, que era acusado de ser espião de Abílio. Repeti os nomes apenas para ficar marcada a dança das cadeiras, o jogo de intrigas.

Um dos peões de Abílio Diniz é Alex Bourgeois, que foi contratado como CEO por Carlos Miguel e por Leco. E foi demitido por ambos. O fato de ser demitido duas vezes não significa que ele seja um mau profissional. Pode até ter sido vítima do jogo de intrigas. Mas, dizem que antes de sair, já participava do mesmo jogo. Antes, não sei, mas depois, sim.

Alex, nas redes sociais, é um balde de gasolina em um incêndio. Critica, critica, critica… Mas qual é o seu interesse nisso? Ele acionou o clube na justiça trabalhista, no que está muito certo. Se ele se considera prejudicado, precisa correr atrás de seus direitos, antes que tudo isso acabe, antes que os trabalhadores percam o direito de protestar. Ele não torce para o São Paulo. Então, porque Alex quer que Leco seja derrotado? Ora, até o pavão que desfila no CT do São Paulo, sabe que ele voltará ao clube, a pedido (ou ordem) de Abílio. Caso aconteça, que, pelo menos, retire a ação.

Roberto Ópice Blum,  presidente do conselho de Ética do São Paulo, julgou Carlos Miguel Aidar, que foi afastado do clube, após gravação feita por Ataíde Gil Guerreiro, que incriminava Aidar e sua namorada Cinira Maturana em comissões. Aliás, Aidar foi um presidente democrata. Instalou comissões em muitos setores do clube.

Ópice Blum igualou acusador e acusado. Expulsou os dois do Conselho, baseando-se em uma maluquice total: Ataíde teria tentado assassinar Carlos Miguel. O motivo? Enfraquecer Leco, amigo de Ataíde. E fortalecer a própria candidatura em abril. E continuou com sua tática, ao aceitar uma acusação antiga contra Leco, ainda referente ao caso Jorginho Paulista. Justamente ele, Opice Blum, que desconsiderou as acusações sobra a comissão de 15% do enrolado caso Far East. Sua atitude foi tão marcadamente partidária que inviabilizou seu nome. A esperteza matou o gato.

O candidato escolhido é Jose Eduardo Mesquita Pimenta, vencedor nos anos 90, com Telê Santana. Foi afastado do clube por uma suspeita de comissão na venda de Mário Tilico. Em virtude da suspeita, foi exonerado, pelo então prefeito Paulo Maluf, do cargo de secretário municipal de esportes. Voltou ao clube, sem que nada fosse provado contra ele.

Então, a eleição reúne Leco, que é presidente, Mesquita Pimenta, que foi presidente e Roberto Natel, que era vice de Leco e que tentou submete-lo a uma prévia eleitoral. E é uma eleição que chega em um momento de grande incerteza jurídica. O conselheiro Assis ganhou uma causa no STF que condena a mudança de estatuto feita por Juvenal em 2004, que lhe deu direito a uma nova candidatura. Ora, quando o clube já fez um novo estatuto, qual o sentido de manter a demanda. Assis não poderia ter a grandeza de retirar a ação e deixar o clube seguir seu curso? Não, ele busca a instabilidade.

A impressão que fica é que o São Paulo carece de ideias e está se reciclando, sempre com um olho no passado. Juvenal mudou o estatuto e se candidatou novamente. Trouxe Aidar, que foi artífice da mudança do estatudo e que já havia sido presidente. E agora, Mesquita Pimenta, que já foi presidente tenta voltar. Já que é para voltar, que se chegue a Laudo Natel.

É a falência do sistema de cardeais. Um sistema fechado, em que pessoas se movem mais por ódio umas às outras, mais pela busca de um pequeno pequeniníssimo poder. O clube não aguentará por muito tempo. Precisa de oxigênio, precisa de ideias novas, precisa de pessoas que o defendam e que lutem por ele. E grandes ideias estão em falta entre os homens de imponentes sobrenomes.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.