Topo

Menon

Carille se agarrou à muleta do sofrimento

Menon

03/03/2017 05h34

Há sofrimento maior que o de Prometeu, o deus grego que ousou desafiar Zeus e roubar o fogo do Olimpo e dá-lo ao Homem? Zeus mandou que ele fosse acorrentado ao monte Cáucaso e que durante 30 mil anos. E diariamente, seu fígado seria comido por uma águia. O órgão se regeneraria e no dia seguinte o suplício se renovaria.

Só mesmo uma lenda, um mito para conter tanto sofrimento. Mas há algo semelhante nos tempos modernos. É o mito do sofrimento corintiano. Maior que as bicadas diárias, maior que a épica travessia dos hebreus rumo à terra prometida é o sofrimento corintiano. A torcida criou a história de que tudo é sofrido, de que tudo é mais difícil, de que tudo é mais heroico.

Os corintianos adoram essa lenda. Para nós é tudo mais difícil, a gente ganha no terrão, o amarilla nos roubou (e o marcio Rezende? e o castrilli?), o nosso estádio está difícil de pagar…..

Amigos, o último título brasileiro conseguido pelo Corinthians foi sofrido? Foi sofrido vencer quando se tinha Vampeta, Rincón, Marcelinho e Edílson no mesmo time? Não vi ninguém chorando. E a última Libertadores? E o Mundial, contra o Chelsea? Sofrido foi para o Vasco que viu Diego Souza não honrar o nome de Maradona e perder um gol feito. Sofrido foi para a torcida inglesa ver Fernando Niño Torres jogar como se fosse do jardim da infância. Foi sofrido contra a Ponte em 77? Foi, mas foi contra a Ponte, que não tem títulos a comemorar em sua história.

Sofrimento é a cara do Corinthians? E Sócrates?

O resumo pode parecer cínico, mas vale para Corinthians e todos os outros clubes do mundo: se o time é bom, passeia. Se o time é ruim, sofre.

O suposto sofrimento corintiano serve de muleta para muita gente. Fabio Carille, o treinador saudado por muita gente como uma boa novidade no futebol brasileiro, alguém do grupo dos "estudiosos" contra os "b0leiros" mostrou-se mais velho do que embalagem de maizena ao buscar no tal sofrimento corintiano a explicação da péssima partida contra o Brusque e da classificação conseguida nos penaltis. Foi sofrido, é assim que o corintiano gosta, disse. Foi uma vitória com a cara do Corinthians.

 

O corintiano não gosta de sofrimento. Gosta de jogador raçudo e comprometido, não gosta de quem não demonstra amor à profissão. Zé Elias, Superzé, Idário e outros. Pato foi um fiasco. Geraldão foi um ídolo. No time atual tem muito pato e pouco geraldão. Marquinhos Gabriel, Giovanni Augusto, Guilherme, Marlone… Além deles, há jogadores com pouca capacidade goleadora e que têm a responsabilidade de fazer gols. Kazim. Jô.

Carille precisa descobrir um modo de o time fazer gols. A sucessão de 1 a 0 pode até levar um time ao título, mas, sinceramente, não vejo como o Corinthians poderá manter a sina de vencer com um gol só.

E Carille não tem culpa? Também tem. Ele montou o time sem alternativas. É uma eterna troca de passes laterais, buscando uma oportunidade. Há pouca projeção pelos lados. Não há um jogador no meio que mostre criatividade e ousadia para transpor as linhas defensivas. Um drible. Uma cavada. Uma tabela, como aquela da vitória contra o Vasco, lá na Flórida.

O Corinthians é um time que joga feio. Joga de forma burocrática. Papai e mamãe. E aí, eu me lembro de outra frase de Carille, após a grande vitória sobre o Palmeiras. Os jogadores foram muito obedientes, ele disse. Formamos uma família. Ora, um time que se forma com jogadores obedientes é um time que não dá alegrias. Não tem ousadia, não tem transgressão à ordem pré-estabelecida por alguém. É um futebol de família mesmo. Tradicional Família Futebolística Brasileira.

O treinador do Corinthians precisa resolver problemas. E ancorar-se em chavões ultrapassados, em muletas centenárias não é o melhor caminho.

 

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.