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A jogadora trans e o hétero assassino (?) no país que mata crianças

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06/03/2017 05h02

Isabelle Neris, de 25 anos, é uma jogadora de vôlei. Transexual, ela faz hormonoterapia desde os 17 anos e agora conseguiu na Federação Paranaense de Vôlei permissão para defender o Voleiras, time feminino. Para isto, provou que tem os níveis de testosterona de uma mulher. Apresentou também documento de mudança de nome civil.

Bruno Fernandes de Souza, 32 anos, é um jogador de futebol. Hétero. Depois de seis anos preso, acusado da morte de Eliza Samudio, ele foi libertado. A justiça brasileira demorou tanto para o julgamento, que ele teve o direito de esperar em liberdade a definição de seu futuro. Ele é acusado também de ocultação de cadáver. O corpo de Samudio teria servido de alimento a cães.

Isabelle, nos jogos em que fez no Voleiras, foi vítima de transfobia. Recebeu ofensas. Um leve exercício de lógica nos leva a pensar com quais palavras foi brindada.

Bruno tem sido muito paparicado. Pessoas pedem para tirar fotos com ele. Houve homens que, ao lado da namorada, aproximaram-se do suposto assassino. É a vontade enorme de estar ao lado de um famoso. Mesmo que a fama tenha vindo junto com a acusação de assassinato.

Isabelle não mereceu o mesmo tratamento de Bruno. Ao contrário, recebeu as mesmas ofensas dedicadas a Eliza Samúdio, a garota assassinada. Sapatão, viado, puta, garota de programa… Alguma coisa elas fizeram.

Não é de se admirar a escolha da população.

Vivemos em um país em que um policial militar mata uma criança de dez anos e diz que ela estava dirigindo um carro e trocando tiros com a policia. Ao mesmo tempo.

Vivemos em um país em que outra criança é assassinada por seguranças do Habibs, por estar pedindo comida na porta do estabelecimento.

Vivemos em um país em que 240 pessoas morrem queimadas em uma clube noturno. No julgamento, anos depois, a juíza diz que a culpa é de quem morreu. As pessoas não escaparam porque estavam bêbadas. Como se fosse um castigo divino. Bebeu, morre. Não bebeu, escapa. O dono do clube noturno não tem culpa de nada.

Somos um país de brunos e não de Isabelles.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.