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Menon

Felipe Melo é pitbull sem violência.

Menon

21/03/2017 15h01

Para se ter uma análise justa sobre Felipe Melo é necessário estar mais atento ao que ele faz do que ao que ele fala. Falastrão, Felipe parece ser um cara fascinado pela imagem que criou, pela personagem que criou. Basta lembrar a Copa de 2010. Ele, que deu um passe magistral para o gol de Robinho, também fez uma falta desclassificante, que prejudicou o Brasil. E ele não faz questão de desmistificar a imagem do brutalhão e fortalecer a do jogador de bom nível técnico.

Desde a chegada, assumiu um discurso belicoso, exemplificado, por exemplo, na frase "vou bater na cara de uruguaio" e outras tonterias do tipo. Passa a mensagem do aguerrimento, que pode ser confundido com violência. Aliás, dizer que vai bater na cara de alguém é violência. Não tem outro adjetivo.

Este é o falastrão. Mas, como ele tem se comportado em campo?

Felipe Melo tem sido um jogador importante. Um combatente à frente de sua área, capaz de bons passes. E alguns lançamentos que surpreendem as defesas rivais. E sua missão de defender a defesa tem sido feita de uma maneira muito diferente do que o seu discurso faz supor. Melo tem jogado duro, tem disputado muitas jogadas e dado carrinhos. Sem violência. Inclusive, foi suspenso do jogo contra o São Paulo por um carrinho em que não fez falta. Levou o amarelo injustamente.

O carrinho que deu em Lucas Lima lhe valeu o amarelo merecidamente. Mas não houve violência. Chegou atrasado, fez falta feia, mas não foi premeditado, não foi violento. Nada parecido com a cotovelada que Vitor Hugo deu em Pablo, por exemplo.

Felipe Melo tem, a meu ver, um discurso equivocado quando se refere ao estilo de jogo necessário para a Libertadores. Eu, há tempos, defendo que o melhor modo de um clube brasileiro se dar bem na competição, é jogar bola. Praticar um bom futebol. Trocar passes, pressionar, fazer a bola rodar, atacar…Há muitas estratégias para mandar no jogo. É só escolher uma. Ou várias. Evidentemente, futebol é um jogo de contato. E um jogo psicológico. Não se pode dar vantagens. O que é diferente do discurso dele, adotado por outros. Lembremos a idiotice que foi a expulsão de Vitor Hugo contra o fraco Tucumán.

Há um outro comportamento de Felipe Melo que incomoda, mas que eu acho perfeitamente justificável e normal. Se uma torcida provoca um jogador, porque um jogador não pode responder no mesmo tom? Se ele entra em campo ouvindo que afundou a seleção do Brasil, por que não pode mostrar o escudo, não pode bailar e ironizar?

Aliás, lembremos o caso Cueva. O peruano do São Paulo fez um gol  na Vila. Comemorou como sempre faz, como Riquelme sempre fez…com a mão em concha no ouvido. Jogadores do Santos, como Leandro Donizete e Thiago Maia fizeram uma roda e intimidaram o jogador. Quem está errado? Quem comemora ou quem tenta intimidar? E Cueva levou o amarelo. E os valentões do Santos se calaram diante de Felipe Melo, que não fez nada de errado.

Eu defendo que o jogador possa se manifestar contra uma torcida, mesmo que seja a sua. Foi o que Michel Bastos fez contra a torcida do São Paulo, que o vaiava insistentemente. Mandou calar a boca. Tempos depois, foi agredido. Quem está certo? Quem responde uma provocação ou quem agride?

O discurso de Felipe Melo me incomoda. Mas é importante dizer que ele não tem feito em campo nada do que seu discurso indica. Tem sido um pitubul sem violência.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.