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Menon

Rodrigo Caio e o assassinato em Córdoba

Menon

17/04/2017 15h10

Prestem atenção no sujeito de vermelho. E nos dois de azul à sua direita. Mais um de azul, à sua esquerda. E, um pouco atrás, naquele de boné branco. São assassinos cometendo um assassinato. São seres humanos matando outro ser humano. O exato momento do crime. É possível ver o ódio no olhar. É possível ver a bestificação do ser humano. É possível ver a falência do ser humano. Os dinossauros seriam piores?

Olhem agora o torcedor com camisa mais escura, ao lado esquerdo do assassino de vermelho. Ele, o senhor mais gordo e o garoto com cara de Justin Bieber, todos à esquerda, não fazem nada para evitar. Olham para o caso com curiosidade. Também não fizeram nada os que estão à esquerda na foto, sem o rosto aparecer. Há um pouco de indignação na mulher, ao fundo, com a mão no rosto. É uma foto que retrata não apenas um assassinato. Retrata o horror. É uma Guernica digital. É Picasso de 37, redivivo em Cordoba.

Emanuel Balbo foi arremessado de três metros de altura. Caiu com a cabeça no chão. Foi assassinado pela torcida do Belgrano por ser torcedor do Talleres. Mas, esperem… Ele é torcedor do…Belgrano.

A história é terrível. Uma tragédia de erros. Raul Balbo, pai de Emanuel, contou que o rapaz, de 22 anos, ao chegar ao estádio, encontrou Oscar Gomez, de 47 anos, que teria assassinado seu outro filho, há dois anos, em um acidente de trânsito. Houve troca de insultos e Oscar gritou que Emanuel era torcedor do Talleres e que estava infiltrado na torcida do Belgrano. Foi o suficiente para que o rastilho de ódio se formasse e a morte fosse consumada. No dia em que o Cristo, em que muitos daqueles assassinos acreditam, teria ressuscitado há milênios, eles praticaram, por ação ou omissão, um crime terrível.

Enzo Merchs, tio de Emanuel publicou uma carta no facebook, endereçada aos assassinos.

Ola… A voce que o insultou, que lhe cuspiu, que o acertou com murros, pontapés e até com suas bandeiras. A você que escutou um imbecil dizer que ele é de Talleres e sem conhece-lo e nem perguntar nada, usou toda sua violênciao, sem pensar em nada. Sabe de uma coisa? Você se equivocou, maluco, você se equivocou. Emanuel ama Belgrano tanto quanto você, seu papai, seu avô, seu primo, seu melhor amigo.

(….) Então, te peço que esta noite, quando for dormir em sua cama quentinha (…)te rogo que pense e pergunte o que você fez? Por que fez? Você se sente mais homem? Mais macho? Está satisfeito?

Na vidada, tudo tem nuances, toda verdade pode ser matizada. Pode-se falar que Emanuel era um bandido, que boa coisa não era, que ele não é boa pessoa, que faria igual. Pode se dizer tudo, mas há horas em que não se pode dizer nada. É preciso ter lado e dizer NÃO. Nada justifica a morte.

E o que Rodrigo Caio tem a ver com isso?

Foto Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians 

Ele tem sido criticado por torcedores do São Paulo por haver dito a verdade e impedido Jô de levar um cartão amarelo que o tiraria do próximo jogo. São coisas do tipo:

Estou cansado de jogador tonto. Jogador de condomínio. Pensou só nele e esqueceu do São Paulo. Duvido que ele faria a mesma coisa se fosse no final de um jogo. E se o Jô marcar no próximo jogo. São Paulo precisa de jogador que ama a camisa e não de quem deseja aparecer e pagar de bonzinho….

Em um momento como o de Cordoba, as ponderações sobre Rodrigo Caio são ainda mais imbecis. É preciso ter lado. Em um futebol cada vez mais violento, em que jogadores fingem murros que não existiram, em que gandula pratica cai cai, em que juiz finge ser agredido, em que o presidente da CBF não pode sair do país, em uma época assim, é preciso dizer que RODRIGO CAIO ESTÁ CERTO. Sem porém, sem ponderação, sem talvez.

Ou se está do lado do esporte ou não. Da honestidade ou não.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.