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Ceni não merece tanto ódio

Menon

16/05/2017 10h15

Rogério Ceni, como todo profissional do futebol, merece uma análise isenta sobre seu trabalho. Dos jornalistas, dos torcedores e dele mesmo. E não é,  principalmente pelos torcedores, o que ocorre. Idolatria e ódio estão presentes no dedo que aponta para Ceni. Um pouco de frieza faria muito bem.

Comecemos pelo próprio ator principal da tragédia/comédia. Como disse muito bem o Mauro Cezar Pereira, como a transição dele de goleiro para treinador foi muito rápida, Rogério ainda pensa com a cabeça de um especialista. Como goleiro, foi grande. Como técnico, tem muito a aprender. E ele, como eu disse AQUI precisa sair da bolha que criou, deixar de achar que é dono absoluto da verdade.

O trabalho de Ceni começou de forma muito promissora. Um time ofensivo, fazendo muitos gols, com marcação no campo adversário, com triangulações pelos lados, com disposição física para tomar a bola no lado rival e com muita posse de bola. Depois da derrota para o Palmeiras, começou a buscar um equilíbrio que nunca veio. Perdeu a magia ofensiva, diminuiu o número de gols feitos e marcados e passou a ser um time comum. E a derrocada veio com três eliminações em três semanas.

Reagiu muito mal. Não viu erros no São Paulo e nem acerto nos rivais. Arrogância ou falta de entendimento do que estava acontecendo?

O momento é ruim, mas é hora de observação. O que será feito nas próximas rodadas, dez talvez, definirá o futuro do São Paulo na competição. Vamos esperar para ver se ele reage. O que não pode é determinar já que Rogério Ceni não deu certo, que o São Paulo vai cair etc.

Esse tipo de análise apocalíptica vem de duas vertentes.

Os são-paulinos, que viam nele o Salvador. Como não foi, ou ainda não foi, passou a ser considerado por muitos o Anticristo. Tudo está errado. Tudo?

Os torcedores rivais.

Os corintianos, por não aceitarem o centésimo gol. Tem gente séria que fica contando quantos gols o Timão fez no Ceni, como uma forma de compensação. Não deu como goleiro, começaram a somar os gols sofridos como técnico. Talvez contem quando ele for, talvez, dirigente como Raí.

Os palmeirenses, por conta de uma rivalidade com Marcos. Rivalidade que nunca chegou aos dois grandes goleiros. Marcos foi muito melhor na seleção, sendo o melhor goleiro da Copa de 2002. Jogou mais que Kahn. Ceni foi muito melhor no Mundial de Clubes, quando salvou o time em 2005. Marcos falhou feio em 1999.

O ódio a Ceni é tão grande que muita gente tenta desqualifica-lo como goleiro. Dizem que só sabia bater faltas. Nem dá para discutir uma coisa assim. Ele é acusado pela saída de Lúcio, que nem deveria ter vindo. Pela saída de Ricardinho, o que é mentira. Ricardinho me disse que a culpa de sua saída foi de Simplício e de Gustavo Nery.

Tudo em Ceni provoca paixões exacerbadas. O próprio fato de ter coragem de se preparar e encarar a barra de ser treinador no clube que defendeu a vida toda. Lembram de Zico, que nunca quis assumir o Flamengo. Ora, coragem passou a ser defeito?

Por tudo o que fez no futebol, Ceni merece uma análise isenta e realista. Aliás, mesmo se não tivesse feito nada, mereceria também. Todo mundo merece.

 

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.