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Bruno Rios supera a morte e sonha com vida nova na Lusa

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19/05/2017 13h00

Bruno Rios, meia de 27 anos, tem sentimentos muito contraditórios ao chegar à Portuguesa, que disputa a Série D a partir de domingo, as 19 horas, no Canindé, contra a Desportiva Ferroviária, do Espírito Santo.

A esperança e a alegria convivem com lembranças terríveis de um passado recente. "É mais que o recomeço da minha carreira, é o recomeço da minha vida mas não tem um dia em que eu não pense na angústia em que vivi".

Em 2012, ele foi diagnosticado com aplasia medular, doença similar à leucemia. Ataca a medula óssea e impede a produção das células sanguíneas, compostas de hemácias, leucócitos e plaquetas. Só para ter uma noção. O recomendável é ter de 150 mil a 440 mil plaquetas por milímetro cúbico de sangue. Bruno tinha 3 mil.

Tudo apareceu após um bate bola com o irmão. Sentiu um cansaço enorme e foi para o hospital. "Fiz uns exames. O médico mandou repetir. E já fiquei no hospital. Foram quatro meses. Não melhorava de jeito nenhum, tinha muitos sangramentos, que é uma consequência da doença".

Parecia o fim de uma carreira que havia começado sob o signo da esperança. Aos 17 anos, foi convocado para a seleção brasileira da categoria. Pela primeira vez, um jogador da Lusa havia chegado a esse estágio. Fez uma boa dupla com Alex Teixeira e o Vasco o contratou. Não foi bem e rodou por times menores como Bragantino, Joséense, Oriente Petrolero, União até que o que estava ruim, ficou muito pior.

A solução para Bruno era o transplante de medula, mas seus irmãos não eram compatíveis. "Fiquei arrasado, porque no meu caso, a doença podia ser fatal. Era o caso mais grave dos três possíveis. Vivi uma tristeza muito grande".

Foi então que o médico Luiz Fernando Pracchia optou pelo tratamento com antimocíticos, remédio feito industrialmente, a partir do soro produzido por coelhos após injeção de células imunológicas. "É o mesmo princípio usado para a produção de soro antiofídico", diz o médico.

Os comprimidos eram caros, mas Bruno conseguiu nos postos de saúde. E os resultados começaram a  vir. "Cada dia que vinha um resultado bom era como se eu tivesse ganho um jogo, feito um gol", ele se lembra.

A alta do hospital não significou o retorno ao futebol. Tudo foi feito paulatinamente. Em 2015, o médico disse que poderia voltar à profissão. "Hoje, eu tenho a mesma possibilidade de ter a doença do que outra pessoa". Como se um maligno raio caísse duas vezes no mesmo lugar.

O retorno foi na Portuguesa. O treinador era Aílton Silva. "Ele foi muito legal, me tratou muito bem e sempre me animou", lembra Bruno. Mas não o escalou.

Em 2016, foi para o Parnaíba, no Piauí e depois para o União Susano. E agora, pela terceira vez na Portuguesa. "Agradeço muito a nova chance. Sou  um meia rápido, que tem bom passe e chega no gol. Vou ajudar a Lusa a subir, porque a Série D é muito pouco para um time assim"

A entrevista foi feita por telefone. Uma hora depois de terminada, Bruno me ligou. Com muita educação e timidez, fez um pedido. "Seria possível terminar a matéria dizendo para as pessoas que é muito importante doar medula? E muito fácil também, é como doar sangue? A ajuda é boa porque a doença pode ser fatal"?

Está dito.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.