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Paulistinha ridículo e adeus a Nicolau Radamés Cretti

Menon

24/03/2013 21h00

Qual o sentido de um campeonato de 20 times em que 190 jogos são realizados para, ao final da maratona, definir os oito que disputarão o título. Os mais bem colocados com uma vantagem mínima?

A impressão que fica é que Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol, está muito mais interessado em ter um campeonato longo do que um campeonato atraente. Ele deve pensar que, quanto mais longo, maior a exposição do campeonato que sua entidade organiza.

Ele é muito mais esperto do que eu e deve perceber isso. Um campeonato tão ruim como esse só prejudica suas ambições – que são muitas.

Duvido que Marco Polo del Nero possa responde sem pestanejar a duas perguntas:

1) Quem é o grande jogador desse campeonato?

2) Quem é a revelação desse campeonato?

Não há. O que há é a contusão de Renato Augusto. A contusão de Cássio. A tentativa de Ney Franco de arrumar o time do São Paulo, e, de bom, apenas a alegria dos torcedores do Botafogo de Ribeirão Preto. 

É muito pouco.

PS – No sábado, eu e muita gente perdeu um grande amigo. Nicolau Radamés Cretti, com quem trabalhei no Diario de S.Pauo há 20 anos, sucumbiu a um câncer. No dia em que completaria 50 anos.

Nicolau era uma figura espetacular. Um sujeito atrapalhado, que colecionou uma coleção enorme de foras. Um cara com problemas físicos e que nunca se levou a sério. Dava um fora, levava uma gozação, dava risada, levantava a cabeça e ia de novo em busca de notícisa.

Era um grande repórter. Dedicado demais. Em uma época de jornalismo mais segmentado, dedicou-se ao vôlei. Cobria treinos de vôlei, dá para acreditar? Quando estava atrás de uma notícia, dava uma canseira enorme no telefone. Não existia ainda telefone celular, é bom lembrar.

 Sem arrogância, sem falsa humildade, construiu uma carreira digna. Sempre foi um homem digno.

Além de tudo, ele era uma pessoa do bem. Sempre preocupado com os amigos. Quando fui visitá-lo em Pirassununga e me apresentou os dois cilindros de oxigênio que o ajudavam a respirar, tive a nítida certeza que aquele seria o nossso último encontro. 

Fomos almoçar peixe e demois tomar sorvete de uvaia, coiss que só existe no interior. Eu me sentei à mesa, enquanto ele, Nunes, Doro e Adalberto ainda compravam. Ele terminou primeiro e veio se sentar na minha mesa.

"Gordo, você está muito triste. O que é isso?"

"Nada, velho. Tô cansado. Tô velho".

"Ah, estamos todos, não liga não".

Ele, com câncer, estava preocupado comigo. Fiquei pensando se o faro de reporter do velho Nicolau havia falhado. Será que ele não percebeu que eu estava triste por causa dele? Arrasado por perceber ali, na careca e na fragilidade de seu corpo a estúpida finitude da vida. 

Acho que não. Dificilmente ele errava. Acho que percebeu tudo, sim senhor. E, mesmo assim, veio me consolar. 

Ou, então, não foi nada disso. Foi uma pergunta comum e eu estou aqui transformando Nicolau em um anjo. Fazendo uma pequena hagiografia dele.

Se for, tá feito. Ele merece. Só não merecia o sofrimento que estava sentindo.

Descanse em paz, amigo.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.