Daniel Kfouri, o último corintiano sofredor
Daniel Kfouri, meu amigo, é daqueles corintianos que, se tiver um filho, vai chamá-lo de Basílio ou Ezequiel e nunca de Sócrates ou Zenon. Nada contra a filosofia, mas apenas a opção por manter-se fiel às raízes corintianas. Para Daniel, gol tem de ser sofrido, só vitória suada tem valor e campeonato bom é campeonato decidid0 no último segundo do quinto jogo, de virada e, se tiver um errinho de juiz para aporrinhar os adversários, ainda melhor.
Agora, o Dani quer impugnar uma eleição que teve no Corinthians. Expliquemos melhor. A Nike, patrocinadora do clube, criou o conceito de "gol de muro". Os gols mais significativos da história atual do clube merecem um painel – muito bonito – nos muros do CT corintiano. O primeiro gol de "muro" foi aquele de Ronaldo contra o Palmeiras, no último minuto, lá em Presidente Prudente. Um gol de cabeça que foi comemorado com Ronaldo usando toda sua agilidade para subir no alambrado. Que não resistiu, é lógico.
O clube levou algumas sugestões de gol para a torcida votar pela internet. Entre eles havia até um "não gol". Era a defesa de Cássio contra o Vasco, na Libertadores do ano passado. O vencedor foi o gol de Guerrero, contra o Chelsea, no Mundial Interclubes. O gol do título. Ganhou disparado.
Foi o suficiente para deixar o Daniel, grande fotógrafo, fora de si. Para ele, não havia dúvida que o "gol de muro" deveria ser o de Paulinho, no mesmo jogo contra o Vasco. Além de considerar esse o gol mais bonito, Daniel tinha certeza que a Fiel pensava como ele. Não foi o que aconteceu. Para seu desgosto.
Ele explica a decepção. "Aquele gol do Paulinho foi um gol corintiano. Nos último minutos de jogo, estava uma dureza, o Cássio tinha salvado a gente. E era um jogo que não valia nada ainda. Um jogo que estava levando a gente para a semifinal da Libertadores. O pessoal preferiu votar no Guerrero, só porque era o título mundial. Não entendo isso"
"Só porque era o título mundial", Daniel? "Isso mesmo, para nós isso não significa nada, ser campeão do mundo. Nós somos corintianos, velho, não precisamos ter um título para justificar uma alegria. Isso é coisa de torcedor modinha, torcedor de poltrona e que só comemora título. Ser corintiano é diferente e estou chateado porque a torcida mais nova parece que está mudando. Será que para a garotada da internet agora o que vale é ser campeão, só isso?" pergunta, realmente angustiado.
A história mostra que Daniel está certo. A imensa torcida corintiana cresceu nos períodos de vaca magra, quando título era uma miragem. E, realmente, tenho visto alguns amigos corintianos adotando uma postura "oficialista". Para eles, só vale o que a Fifa determina. Ou seja, os clubes que venceram a disputa Europa x América, desde os anos 60, não podem ser chamados de campeões do mundo. Barcelona, de Messi, Real Madrid, de Di Stefano, Peñarol, de Pedro Rocha, Santos, de Pelé, São Paulo, de Raí, nada tem valor. Os torcedores desses clubes, que choraram, sofreram, vibraram e comemoraram nas ruas, são uns bobos.
O que vale é o oficial, é o que está na Fifa.
Daniel, o último sofredor, não gosta desse rumo que a Fiel está tomando.
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