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Ronaldinho deve vencer duelo anacrônico contra Wellington

Menon

08/05/2013 12h19

Quando Ronaldinho receber a primeira bola no jogo de hoje, Wellington estará a poucos passos dele. Isso, se o craque estiver de frente para o campo do São Paulo. Se estiver de costas, a marcação sera mais dura, terá sinais de assédio. A distância entre volante e meia, marcador e marcado, operário e virtuoso será de centímetros. Ou estarão colados. E, com a pena esquerda fixa no chão, como apoio, Wellington tentará, com a direita impedir que a bola chegue ao meia do Galo.

Sempre que vejo um lance desses me lembro imediatamente de Telê Santana. Nada o deixava mais bravo e rabugento do que volante fazendo falta em adversário que estivesse de costas para ele. Telê dizia que, de costas, o máximo que o meia poderia fazer era recuar a bola para um companheiro. Sofrendo a falta, teria muitas possibilidades: desde a cobrança direta ou alguma jogada ensaiada. Afinal, estaria de frente para o gol.

O duelo entre um volante e um meia, entre um marcador e um criador é muito injusto. Aquele que entra em campo para impedir o o outro de jogar pode ganhar 19 lances a cada 20 da disputa particular. No único que perder, haverá o gol adversário. Então, nós jornalistas, daremos nota maior para o volante, dizendo que ele anulou o craque. Só perdeu um lance. O lance do gol.

Este é o quarto São Paulo x Galo da Libertadores e Ronaldinho brilhou apenas na semana passada, quando comandou o toque de bola e a busca de espaços para seu time, que tinha onze contra dez em campo. E ainda fez – olha o lance de craque aí – um gol de cabeça.

No primeiro jogo, em Minas, não jogou bem mas deu o golpe do copinho de água. É o que eu digo sobre duelo injusto. O volante faz seu papel o tempo todo, sua dois litros e meio e, quando vai respirar em uma cobrança de lateral, esquece que não há impedimento e vê o craque dar o passe preciso e precioso para o gol de Jô. 

 Na vitoria do São Paulo, Ronaldinho não conseguiu atuar bem e foi Ganso quem mostrou que o craque sempre vence. Sofreu marcação implacável de Pierre até o final, quando recebeu, de costas, fez o giro e tocou para Osvaldo, na direita, em lance que resultou em gol de Ademílson. 

Impedir que Ronaldinho jogue é fundamental para o São Paulo. Ele é o único armador do Galo. É ele quem municia os atacantes: Bernard, Tardelli, Jô, Luan ou quem for escalado. Se não jogar, os outros têm seu trabalho muito prejudicado. O São Paulo tem dois meias, é mais trabalho para os volantes do Galo. 

Ronaldinho vai achar uma solução. Perderá alguns lances, Wellington vai deixar o campo com a sensação de dever cumprido, vai ser elogiado, mas é muito provável que o craque vença um, dois, três duelos que serão transfomados em gols. E em classificação.

Este é um tipo de contraposição – suor x talento, disposição x toque, falta x drible – que está se tornando anacrônico. Para o bem do futebol, não deveria haver volantes que só marquem. E nem meias que só criam. Um bom volante deveria criar problemas para Ronaldinho também. Sair para o jogo e obrigá-lo a correr atrás. Mas não é o que se verá hoje. Wellington não cria. Ronaldinho não marca. É uma briga gostosa de se ver mas está na contramão do futebol atual.

Melhor para o Galo.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.