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Menon

Carta aberta para Neymar: "Acaba com eles, garoto"

Menon

27/05/2013 06h00

Caro Neymar,

Como diria um grande amigo meu – Renato Neves Frabetti – você não é do tipo que precisa se preocupar com a restituição do Imposto de Renda. Se parar de trabalhar agora, seus bisnetos estarão com a vida ganha e não tem obrigação de ler o que eu possa te dizer. Mas é de coração.

Agora a conversa é diferente, Neymar. Na Espanha, você terá a possibilidade de ser escolhido como o melhor jogador do mundo. Os eleitores desse prêmio olham apenas para a Europa. Não adianta fazer o que você fez por aqui que eles nunca vão dar o braço a torcer. Em 1997, um tal de Edmundo – conhece, não? – fez um campeonato brasileiro espetacular, algo de sonho, duvido que alguém tenha jogado como ele e nem foi pensado como o melhor do mundo.

Para conseguir isso, você precisa se dedicar um pouco mais. Eu sei que você ganha muito "por fora" mas esquece esse papo de fazer figuração na TV Globo. Isso só atrapalha e cria uma imagem errada de você. Pelo que converso com pessoas que te conhecem você é um profissional sério, é do tipo que não perde treino, chega da seleção e já veste a camisa do Santos, não tira o pé, então não dê chance lá na Europa para colocarem em você o clichê que eles usam para todo jogador brasileiro. Mostre que você é craque e não é irresponsável. Não faça como Sócrates, que preferia os museus de Florença aos treinos, não faça como Edmundo que não perdia o Carnaval, não faça como Viola que não se acostumou com a comida espanhola. 

Outra coisa, Neymar. Você que é fã desse pagode universitário horrível e dessas dancinhas mequetrefes, talvez não tenha ouvido falar de Tom Jobim. O maestro disse uma vez que fazer sucessso no Brasil é crime. Com você tem sido assim. Aqui no Brasil, muita gente fecha os olhos diante das porradas que você leva e te critica por cair muito. Você cai mesmo, e é bom parar com isso lá na Europa, mas não consigo entender quem releva pancada e critica uma esperteza.

Essa inveja faz com que você seja mais querido lá do que aqui. Então, velho, mostra que eles estão certos e que nós somos um bando de invejosos. Agora, Neymar, somos "europeus". Tem gente que considera Tello, Cuenca e Pedro melhore que você. Tenho uma amiga que considera Bale um gigante. Ele é bom mesmo, mas é galês. Você é brasileiro, um legítimo representante do que há de mais belo no mais belo futebol do mndo. 

Eu acho, Neymar, que o Barcelona precisa muito de você. Mais do que você precisa do Barcelona. Quando falo isso, me chamam de brasileirinho e de pacheco. Tudo bem, não ligo. Eu vi Garrincha e eles não viram. O Barcelona está precisando de alguém que "alongue" o campo, que dê profundidade àquele time mágico. Uma mágica que está sendo desvendada pouco a pouco. O Barça está precisando de mais improviso, de mais drible. É com você. Você é o cara apropriado para isso. Vai ser sopa no mel. Ah, essa expressão antiga significa que vai ser ótimo, embora eu não conheça ninguém que goste de sopa no mel.

Então, Neymar, o que eu desejo é que você prove que os europeus que esperam muito de você estão corretíssimos. E aos brasileiros que te criticam, que eles estão errados. Escolheram o esporte errado. Só o futebol tem o que você pode dar: a capacidade de transformar um lenço em um latifúndio. Através do drible.

Vai lá, garoto.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.