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Corintianos vão lutar pelos direitos humanos? Ou apenas pelos direitos dos manos?

Menon

07/06/2013 11h11

A cidadania tem muito a comemorar com a libertação de sete dos 12 corintianos que estavam presos, sem julgamento, há 106 dias em Oruro, na Bolívia. Aliás, chamá-los de corintianos é uma redução. São brasileiros que estavam presos injustamente. Como eu sei? Ora, o garoto Kevin foi assassinado com o disparo de um sinalizador. Como podem ser presas 12 pessoas? No mínimo, onze são inocentes. E algumas delas tinham como comprovar que não estavam no estádio no momento do disparo. 

Assassinato, sim. Sinto nojo quando se referem ao que ocorreu como "lamentável episódio". O culpado tem de ser punido. O verdadeiro culpado. Não 12 bodes expiatórios. 

A diplomacia brasileira se envolveu no caso, inclusive com participação da presidente Dilma Rousseff em conversa com o presidente Evo Morales. Mário Gobbi, presidente do Corinthians, também se movimentou. Aqui, uma perguntinha ao Gobbi: se ele acha que o clube não pode ser punido por um erro do torcedor, porque ele se movimentou para libertar torcedores que prejudicaram o clube? Ao lutar pela justa liberação dos prisioneiros ele não estaria dando razão à teoria de que a torcida é uma extensão do clube e que a entidade deve ser punida por atos de seus simpatizantes? 

A Gaviões da Fiel também atuou – e nada mais correto – pela liberação dos seus. Nesse processo, ficaram horrorizados com a situação da prisãoem Oruro. Banheirosimundos, apenas um buraco no chão, superlotação, comida ruim etc. 

Sinto informar, mas tudo o que há lá, abunda aqui. Há muita gente presa sem culpa no Brasil. Há muita gente amontoada em celas como se não fossem seres humanos. Muitas prisões no Brasil não oferecem condição alguma de reabilitação do cidadão. Nosso sistema prisional não é exemplo para a Bolívia. 

Por que a Gaviões não usa seu poder de mobilização e luta pelos direitos humanos dos presos brasileiros? Ou ela se interessa apenas pelos direitos dos manos? Utopia? Acho que não, baseado na história da própria torcida. Vamos lembrar que uma das primeiras manifestações públicas e de massa pela redemocratização do Brasil veio da  Gaviões. Uma faixa levada aos estádios clamava pela anistia a presos políticos. Um lindo ato. Um ato de coragem.

A Gaviões sofreu na pele a injustiça. Poderia transformar isso em ma bandeira de luta e ajudar muitos corintianos, sãopaulinos, santistas, palmeirenses, vascaínos, brasileiros enfim que sofrem em prisões desumanas. 

É sonhar muito? Toda a indignação vai acabar com a volta dos manos para o Pacaembu?

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.