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Pepe: "Gilmar foi o maior de todos os tempos"

Menon

25/08/2013 21h03

Gilmar faz parte, é lógico, do meu livro "Os 11 maiores goleiros do futebol brasileiro". Os outros dez eram Barbosa, Castilho, Raul, Leão, Zetti, Taffarel, Rogério Ceni, Marcos, Dida e Julio Cesar. O livro é de 2010. Para cada goleiro, havia uma entrevista com um contemporâneo. Para falar de Gilmar, conversei com Pepe, ponta-esquerda do Santos, autor de 405 gols na carreira.

Abaixo, a entrevista.

Gilmar era bom mesmo?

O melhor goleiro da história do Brasil. Calmo, tranquilo e elegante. Tinha elasticidade mas não era espalhafatoso, do tipo que faz pontes e depois falha em um lance mais simples. Passava tranquilidade para a defesa, era mais alto que os outros goleiros e tinha presença de área. Sempre rebatia a bola com força, usando as duas mãos ou então só a esquerda, pois era canhoto. Não soltava a bola com as mãos, como os goleiros de hoje, que tem mais fundamento nessa questão. Dava dois quiques na bola e chutava com força. Muitos gols saíram assim.

Ele buscava algum jogador em especial?

Não precisava. Onde caísse havia alguém que sabia o que fazer com ela. Nosso ataque Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e eu.

Era um jogador frio?

Ele falhava, como tantos outros, mas tinha a vantagem de se recompor rapidamente. Falava para a gente ficar tranquilo porque não iria passar mais nada.

Mas o jornalista Mario Filho disse que ele tremeu muito no Sul-Americano de 57, principalmente contra o Uruguai.

Não é verdade. Estava lá e fui eleito o melhor ponta-esquerda do campeonato. Se ele falhou contra o Uruguai não foi o único. O time deles era bom e logo fez três gols e reagimos, mas só fizemos dois.

Por que as críticas então?

Havia uma briga muito grande entre ele e o Castilho, que também era um monstro. Em 1956, Gilmar começou a ganhar a vaga. Se ele tivesse falhado em 57, o Feola não o colocaria como titular em 58.

É verdade que ele saiu do Jabaquara e foi para o Corinthians como contrapeso do Ciciá?

Não acredito. O Ciciá era bom volante, corria bastante, mas não era um grande jogador. O Corinthians deu um jeito de colocar o Gilmar no negócio.

Como ele chegou ao Santos?

Foi em 1961. Ele estava muito magoado porque disseram que ele estava fazendo corpo mole e que no começo do Corinthians havia entregue um jogo para a Lusa. Imagina, logo ele, um sujeito tão sério. Com a gente houve uma integração bem rápida e fez grande carreira no Santos.

Quem era o goleiro do Santos?

Era o Laércio, ótimo goleiro. Mas o Gilmar, além de ser bom, tinha grife. Era um a mais da seleção e a cota para excursões aumentava.

Como era fora de campo?

Brincava com os outros jogadores, mas era mais sério que a gente. Mantinha certa distância. No ônibus, ficava sempre nos três primeiros bancos. Não era da turma da batucada.

Tinha momentos de nervosismo?

Lógico, ele era jogador de futebol. Não era um lorde. Na final de 57, contra o São Paulo, o Maurinho fez um gol e passou a mão na cabeça dele. Gilmar ficou maluco. Correu atrás dele o campo todo. Uma vez, no Corinthians, uns torcedores o chamaram de frangueiro e ele foi para cima. Não dá para aguentar tudo.

Quais foram as grandes partidas dele?

Foram muitas, mas vou lembrar de três. A mais impressionante foi a final da Libertadores de 63. Fomos pegar o Boca no alçapão da Bombonera. A torcida intimidava e o campo estava molhado, acho que fizeram isso para acabar com nosso toque. O Boca foi para cima e massacrou. Eu fui jogar de lateral esquerdo e o Dalmo foi para a zaga. O Lima, que era lateral, foi para o meio e o Dorval recuou para fazer o lado esquerdo. O Boca fez 1  0 e o Gilmar pegou tudo, fez miséria e impediu uma goleada. Nosso contra-ataque era só Pelé e Coutinho e conseguimos virar para 2 a 1.

E as outras?

Contra o Benfica, em Lisboa, pelo Mundial e contra a Espanha, em 62, na Copa. O Benfica tinha o famoso ataque José Augusto, Coluna, Torres, Eusébio e Simões. Fizemos 5 a 0 e o Gilmar foi fundamental para impedir a reação. Eles marcaram só dois.

No Chile, a Espanha tinha Puskas, Adelardo, Peiró e Gento, um grande ponta. O Pelé, contundido, estava fora da Copa e se a gente perdesse poderia ficar fora. Eles fizeram primeiro com o Adelardo e estavam melhor em campo. Então, veio um cruzamento e pularam na bola o Gilmar, o Mauro e o Adelardo. A bola sobrou para Peiró, que chutou com o gol aberto. Até hoje, não sei como Gilmar saiu do chão e pegou aquela bola. Só sei que pegou.

E a Copa de 66?

Eu estava fora, levaram o Edu, uma revelação de 16 anos e o Paraná, um ponta muito valente. Não acompanhei, mas sabemos que o Gilmar fez as duas primeiras e depois deu lugar ao Manga. O Gilmar tinha 36 anos e havia outros veteranos como Bellini, Djalma Santos e Orlando. Demoraram para renovar. Mas isso não importa. O Gilmar sempre foi considerado ótimo, apesar da Copa. Eu e ele temos casa em Socorro, no interior de São Paulo. Quando ele está por lá, é fácil ver o carinho do povo, todo mundo vai abraçar, pede para fotografar. Ele foi grande. Foi mesmo o maior de todos.

Sobre o Autor

Meu nome é Luis Augusto Símon e ganhei o apelido de Menon, ainda no antigo ginásio, em Aguaí. Sou engenheiro que nunca buscou o diploma e jornalista tardio. Também sou a prova viva que futebol não se aprende na escola, pois joguei diariamente, dos cinco aos 15 anos e nunca fui o penúltimo a ser escolhido no par ou ímpar.Aqui, no UOL, vou dar seguimento a uma carreira que se iniciou em 1988. com passagens pelo Trivela, Agora, Jornal da Tarde entre outros.